Page 33 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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alguns centímetros. Foram longos e incómodos dias que às vezes se lhe
afiguraram totalmente inúteis, pois via-se a cuidar de um objecto sem
vida, de uma espécie de frágil pedra, embora fosse branca e com
pintinhas azuis.
Ocasiões houve em que, entorpecido pela falta de movimentos, já
que, segundo as ordens de Colonello, só abandonava o ovo para ir comer
e visitar o caixote onde fazia as suas necessidades, sentiu a tentação de
verificar se dentro daquela bolinha de cálcio crescia efetivamente um
filho de gaivota.
Então aproximou uma orelha do ovo, e depois a outra, mas não
conseguiu ouvir nada. Também não teve sorte quando tentou ver o
interior do ovo pondo-o à contraluz. A casca branca com pintinhas azuis
era grossa e não deixava transparecer absolutamente nada.
Colonello, Secretário e Sabetudo visitavam-no todas as noites e
examinavam o ovo para verificar se acontecia aquilo a que Colonello
chamava progressos esperados", mas quando viam que o ovo continuava
igual ao que era no primeiro dia mudavam de conversa.
Sabetudo não deixava de se lamentar de que na sua enciclopédia não
estivesse indicada a duração exata da incubação: o dado mais concreto
que conseguiu retirar dos seus grossos livros foi que esta podia durar
entre dezassete e trinta dias, consoante as características da espécie a que
pertencera a gaivota mãe.
O choco não fora fácil para o gato grande, preto e gordo. Não se podia
esquecer da manhã em que o amigo da família encarregado de tratar dele
achou que no apartamento se estava a acumular poeira a mais e decidiu
passar o aspirador.
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