Page 50 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Uma tarde aproximou-se da entrada do bazar e teve um desagradável
encontro com o chimpanzé.
- Nada de fazer caca por aí, ó passaroco! - guinchou Matias.
- Por que me diz isso, senhor macaco? - perguntou com timidez.
- É a única coisa que os pássaros fazem. Caca.
E tu és um pássaro - repetiu o chimpanzé cheio de segurança.
- Pois engana-se. Sou um gato muito limpo - respondeu Ditosa
procurando a simpatia do símio.
- Ocupo o mesmo caixote do Sabetudo.
- Pois, pois! O que acontece é que essa pandilha de sacos de pulgas te
convenceram de que és um deles. Olha para o teu corpo: tens duas patas
e os gatos têm quatro. Tens penas e os gatos têm pêlo. E o rabo? Heim?
Onde tens tu o rabo? Estás tão maluca como aquele gato que passa a vida
a ler e a murmurar terrível.! terrível. Passaroco idiota! E queres saber
porque é que os teus amigos te dão mimo? Porque estão à espera de que
engordes para fazer de ti um grande banquete. Vão comer-te com penas
e tudo! - guinchou o chimpanzé.
Nessa tarde os gatos estranharam que a gaivota não viesse a correr
comer o seu prato favorito: as lulas que Secretário escamoteava da
cozinha do restaurante. Procuraram-na muito preocupados, e foi
Zorbas que a encontrou, encolhida e triste no meio dos animais
empalhados.
- Não tens fome, Ditosa? Há lulas - informou Zorbas.
A gaivota não abriu o bico.
- Sentes-te mal? - insistiu Zorbas preocupado. - Estás doente?
- Queres que eu coma para engordar? - perguntou ela sem olhar para
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