Page 135 - As Viagens de Gulliver
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A rainha ordenara ao seu carpinteiro privativo que construísse uma caixa,
      que  me  pudesse  servir  de  quarto,  segundo  o  modelo  que  eu  e  Glumdalclitch
      escolhêssemos. Este homem era um artista extremamente engenhoso, e, sob a
      minha  direção,  ao  fim  de  três  semanas  tinha  concluído,  para  o  meu  uso,  um
      quarto  de  madeira  de  dezasseis  pés  de  lado  e  doze  de  altura,  com  janelas  de
      guilhotina, uma porta e dois gabinetes, exactamente como um quarto de cama
      londrino. A servir de teto havia uma tábua girando em duas dobradiças, de forma
      a poder ser levantada, permitindo assim introduzir dentro da caixa uma cama que
      fora prontamente preparada pelo estofador da rainha, e que Glumdalclitch todos
      os dias retirava para pôr a arejar, fazendo-o com as suas próprias mãos; à noite,
      colocava tudo de novo lá dentro, fechando o tecto à chave por cima de mim.


















          Um  simpático  artífice,  famoso  pelas  curiosas  miniaturas  que  fazia,
      dedicou-se  a  fabricar  para  mim  duas  cadeiras,  com  costas  e  braços,  de  uma
      matéria  semelhante  ao  marfim,  e  duas  mesas,  juntamente  com  um  armário,
      para eu guardar as minhas coisas. O quarto era todo acolchoado, incluindo o chão
      e o teto, para evitar qualquer acidente que pudesse advir pela falta de cuidado
      daqueles  que  me  transportassem  e  para  amortecer  os  choques  devidos  aos
      solavancos da carruagem, quando em viagem. Desejando ter uma fechadura na
      porta, para me proteger das ratazanas e dos ratos que poderiam entrar, conseguiu
      o ferreiro, após várias tentativas, fazer a mais pequena que alguma vez se viu
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