Page 136 - As Viagens de Gulliver
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naquele país; tão diminuta que, maior, tinha eu visto no portão de entrada de uma
casa em Londres. Encontrei um meio de guardar a chave num dos meus bolsos,
pois receava que Glumdalclitch a perdesse. A rainha ordenara também que, das
sedas mais finas que se pudessem obter, me confeccionassem vestuário, não
muito mais grosseiro que um cobertor inglês, mas bastante incómodo até me
habituar a ele. Foi executado à moda do país, que tinha qualquer coisa de persa e
chinesa ao mesmo tempo, mas constituía uma vestimenta decente e bastante
austera.
A rainha apreciava tanto a minha companhia que nem durante as
refeições me dispensava. Tinha para mim, colocada sobre a própria mesa em
que Sua Majestade comia, uma mesa, mesmo junto do seu cotovelo esquerdo, e
uma cadeira para me sentar. Glumdalclitch ficava de pé, sobre um tamborete,
junto à mesa, para me assistir e cuidar de mim. Eu dispunha de um serviço
inteiro de pratos e travessas de prata, que, comparados com os da rainha, não
eram muito maiores que aqueles que eu vira numa loja de brinquedos em
Londres, como mobília para uma casa de bonecas. Era a minha aiazinha quem
os guardava no bolso, dentro de uma caixa de prata, e dava-os às refeições, à
medida que eu ia precisando, sendo ela própria quem os lavava sempre.
Ninguém mais tomava as refeições com a rainha a não ser as duas princesas
reais, a mais velha de dezasseis anos de idade, e a mais nova, de treze anos e um
mês, exactamente, naquela altura.