Page 108 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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com a adrenalina que ele precisa. Não sente nenhum tipo de pânico vindo
do assento do motorista.
Ela está fazendo isso de propósito.
O carro gira 360 graus e derrapa de lado pela encosta. A garota ri, a
cabeça inclina para trás, olhando para o céu cinzento de inverno. Um slalom
selvagem no meio das árvores nuas.
Matt pode sentir a beirada do penhasco, uma súbita queda onde o ar frio
esbofeteia de baixo para cima.
Estão indo direto para ele, mas mesmo assim Matt não se importa. Ele se
sente vivo, a normalidade dos últimos anos, a simples mundanidade de sua
vida arrasada depois de uma hora com essa garota. Ele ri conforme ela puxa
o freio de mão, o carro derrapando novamente em um lento círculo.
A beirada está se aproximando. Quinze metros. O carro ainda nem
desacelerou.
Dez. Eles vão atravessar. Cinco…
O carro atinge um monte de neve enorme. Matt é jogado para o lado, o
cinto de segurança ferindo-lhe o ombro. Um dos lados do carro se inclina
para cima, fica parado ali por um momento, e então cai novamente com um
ruidoso estampido.
Matt solta o ar lentamente, suspirando. Liberando a tensão.
Silêncio, e então:
– Foi bom para você? – ela pergunta.
A garota sai do carro e anda para a beira do penhasco. Ela fica ali parada,
com o vento esbofeteando-a, ela mal se mexe. Ela é forte.
Matt espera, deixando que a moça tome a liderança. Ele ainda não tem
controle sobre ela. Não consegue descobrir o que ela quer, como ela pensa.
Ela o fascina.
– Perto da beirada, Matt Murdock.
Ela sabe seu nome. Interessante.
– A um passo do fim.
– O fim do quê? – Matt sai do carro e caminha lentamente na direção dela.
Ele sente como se estivesse se aproximando de um cervo na floresta – como
se o menor movimento errado pudesse afugentá-la.