Page 109 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Para ao lado dela. A mulher não se vira, apenas olha fixamente para o
penhasco.
– É aqui o nosso lugar. – Sua voz agora é suave, pensativa.
– No frio?
– No limiar. – Ela olha de lado para Matt. Analisa seu rosto, seus olhos
examinando cada detalhe, como se tentasse memorizá-los. – O resto do
gado… está feliz em ficar em seu curral. Entorpecido. Adormecido. Mas
nós somos diferentes.
– Somos?
– Sim. Quando te vi nos telhados, eu soube. – Ela se afasta, olhando para
as águas agitadas. – Somos iguais, Matt. Dois da mesma espécie.
Ela se volta para ele, fita seu rosto. Ele sente que ela está quase…
esperando por algo. Procurando. Tentando entender.
– Pessoas como nós não podem viver como o resto deles. Não podemos
ficar quietos. Não podemos simplesmente… deslizar até a hora da morte.
Você entende o que estou dizendo?
Matt sente a boca seca. Ele entende.
– Você e eu, somos atraídos para a beira do precipício. – Ela estende a
mão e lhe acaricia o rosto. – E nos atiramos.
Então dá um passo para trás, preparando-se para saltar.
Matt tenta detê-la, mas é exatamente como da última vez. É tarde demais.
Ela se foi. Está caindo.
– Não!
Caindo.
Ele aguarda por aquele som familiar e doentio da carne atingindo o chão,
mas, em vez disso, ouve um estalo alto, como uma árvore sendo atingida
por um raio.
Gelo. Ela atinge o gelo.
Isso significa água.
Matt não hesita. Segue-a por sobre a beirada.
O vento rasga seu rosto. Seus óculos se quebram. Ele gira no ar, consegue
girar o corpo para cair em pé no momento certo.