Page 72 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Sete anos atrás.

                  É Matt quem tem de identificar o corpo do pai. Não há mais ninguém que
                possa fazer isso. Matt é a única família que Jack teve.

                  No começo, ele pensa que tudo foi um erro. Não há como o cadáver sobre
                a mesa de aço naquela sala gelada ser de Jack “Batalhador” Murdock. Não

                pode ser. Ele estica a mão para tocar no rosto do pai, mas o legista o impede
                colocando a mão sobre seu ombro.

                  – Melhor não, filho – ele diz, gentilmente. – Estamos… falando de trauma
                por disparo de arma de fogo.

                  Matt  engole  as  lágrimas.  Ele  respira  profundamente,  trêmulo,  e  segura
                com força os cantos da mesa de aço, seus dedos ficando brancos.
                  No fim, ele tem de identificar o pai por uma de suas tatuagens. Aquela

                quase apagada em seu braço. Matt pode sentir a tinta na pele gelada do pai,
                ele traça o formato com a ponta dos dedos. Jack contou a Matt que fez a

                tatuagem  no  último  dia  de  escola.  Ele  e  a  mãe  de  Matt.  Cada  um  fez  a
                metade de um coração. Ele riu quando contou aquilo para Matt. Piegas pra

                caramba, ele disse, olhando para a tatuagem. Mas éramos jovens. E naquele
                momento era a coisa mais romântica que qualquer um de nós já havia feito.

                                                           • • • •

                  Naquela noite, Matt voltou ao Madison Square Garden.
                  Você sabia. Você sabia que algo podia acontecer, ele pensa.

                  Foi por isso toda aquela conversa. Sobre Matt cuidar de si mesmo. Sair de
                Nova York. Abrir suas asas. Seu pai sabia.

                  Matt  fica  parado  na  entrada  do  beco.  Pode  ouvir  algo  se  movendo
                rapidamente: a fita que isola a cena do crime, já rasgada e jogada na lixeira,

                esvoaçando ao vento frio.
                  Ele segue em frente, sua bengala tocando o caminho adiante. Não que ele
                precise  dela,  mas  ele  sempre  gosta  de  estar  com  ela  caso  alguém  esteja

                olhando. Evita perguntas.
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