Page 83 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
P. 83

14.    Um lugar chamado... escola! - Por Josiane M. Hornung



                      Confesso  que  a  ideia  de  fazer  uma  autobiografia  causou-me  certa  paralisia  e
               aflição, pois imediatamente, surgiu aquela temida pergunta: O que vou escrever sobre

               mim?  Um  ser  humano,  rotineiro,  ainda  sem  grandes  feitos  na  vida  e  sem  títulos
               importantes,  e  que  busca  fazer  a  diferença  no  mundo...  Sim,  nasci  com  essa

               automotivação, acredita? Desde a minha tenra idade, lembro que meu maior sonho, meu
               maior desejo, se posso dizer assim, era ajudar as pessoas e a fazer um mundo melhor...

               Bem, confesso, que até hoje ainda estou tentando realizar esse sonho, que acabou se
               transformando em uma missão de vida...

                      Nasci em um pequeno distrito de imigrantes alemães, próximo à cidade da Lapa.
               Tenho algumas poucas memórias desse tempo de minha vida e, dentre elas, além da

               pobreza e o trabalho árduo de meus pais e irmãos mais velhos, lembro das senhorinhas
               que,  como  regra  vestiam  saias  longas  e  lenços  em  suas  cabeças  para  cobrir  os  fios

               brancos...  Eu,  na  minha  alegria  infantil,  as  chamava  todas  de  “vós”,  as  quais  me
               respondiam  com  sorrisos  e  faces  levemente  coradas!  Também  me  lembro  de  todas

               muito devotas, sempre segurando terços e indo ao cemitério... Isso me parecia um pouco
               macabro, mas todas às segundas-feiras, normalmente, a sol a pino, elas compareciam

               ao pequeno cemitério local e lá permaneciam algumas horas, fazendo orações em vários
               túmulos,  mesmo  que  estes  não  pertencessem  à  família...  diziam  que  oravam  pelas

               “almas”.
                      Aos  meus  três  anos,  nossa  família,  devido  aos  reveses  econômicos,  precisou

               mudar para um sítio, em terras pertencentes aos meus avós maternos. Lembro desse dia
               como se fosse ontem: era junho de 1983, chovia muito e fazia um frio congelante... Meu

               coração de criança, ainda que eu não soubesse explicar, estava aflito e com medo do
               que esperar ao final daquela empreitada, pois eu nunca havia me mudado antes e a ideia

               de ir morar em um lugar onde não havia vizinhos, um lugar onde não teria mais as várias
               “vós”, nem luz elétrica, tão pouco água encanada, me assustava... e muito! O medo só

               cedia  espaço  quando  me  lembrava  que  tinha  sido  incumbida  de  uma  tarefa  muito
               importante: levar em segurança o tesouro mais valioso que minha mãe havia confiado –

               as bolinhas e enfeites de Natal!
                      Ao fim daquela viagem começaria uma nova etapa de minha infância. O inverno

               passou e cedeu lugar ao entusiasmo da primavera – tal qual como o meu medo e tristeza,
                                                                                                        81
                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
   78   79   80   81   82   83   84   85   86   87   88