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ESPECIAL BICENTENÁRIO 2022
1822
Muito menos, a Semana de 22 ser Nas décadas de 1950 e 1960, acer- O que será celebrado em 2022? Que
mitificada como seu máximo advento. vos modernistas adentraram aos mu- seja um Fora! Fu! Fora o bom burguês!…
Podemos afirmar que houve uma úni- seus, em 1952 e 1962 recebeu a ho- e que os trabalhadores, incluindo os da
ca Semana de 22, mas nunca um único menagem em exposição no Museu de cultura, estejam organizados como clas-
modernismo, nem mesmo entre os que Arte Moderna, este um museu criado se para tomar os meios de produção,
subiram juntos no palco daqueles dias pela elite paulista em 1948 ainda sob inclusive os da cultura.
de fevereiro de 1922. Segundo Almeida os impactos da Semana e seus flertes
(2015), tampouco é possível pensar o com os donos do capital. SONIA FARDIN é historiadora
modernismo no Brasil a partir somente Já em 1972, como apresentado
dos movimentos sulistas, marcadamen- pela pesquisa de Roselis de Napoli REFERÊNCIAS
te paulistas, nem apenas a partir do (1980), as comemorações do sesquicen- ALMEIDA, Emiliano César de. Retatro paulista
evento de 1922. Como questiona Foot tenário da independência foram pró- do Brasil: Paulo Prado, o modernismo e a Se-
Hardman: digas em associar o ideário da ditadu- mana de Arte de 1922. Macapá, v. 5. n. 2., 2015.
“Modernismo, qual? Dos artis- ra militar com o heroico patriotismo http://periodicos.unifap.br/index.php/letras
tas de 1922 ou do 1900? Da geração dos modernos de 1922, inclusive com ANDRADE, Mário. Há uma gota de sangue em
de 1930 ou de 1870? Dos comunistas um selo postal oficial. Os gestores das cada poema. São Paulo, 1917.
de 1922 ou do movimento operário festividades do sesquicentenário es- ANDRADE, Mário. Macunaíma, o herói sem ne-
socialista e libertário das décadas pre- vaziaram toda e qualquer perspectiva nhum caráter. São Paulo: Editora Nova Fron-
teira. 2013
cedentes? Dos arquitetos acadêmicos historiográfica analítica, fazendo uso
ou dos engenheiros de obras públi- da memória cultural descolada de seu ANDRADE, Mário. “Elegia de Abril”. In: Aspec-
tos da Literatura Brasileira, 1974.
cas? Dos “tenentes” dos anos 1920 ou processo histórico, para servir a um
dos abolicionistas e republicanos de projeto civil-militar de subordinação ANDRADE, Oswald. Obras completas. Rio de
meio século antes? Dos poetas me- da indústria nacional ao imperialismo Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
tropolitanos ou dos seringueiros do americano. ANDRADE, Oswald. “O caminho Percorrido” in:
Acre? Dos fios telegráficos da Comis- A cada década a Semana vem sen- Maria Antonieta d’Alkmin e Oswald de Andra-
de. São Paulo, 2003.
são Rondon ou dos índios rebeldes? do reapresentada sob novo formato;
De Mário e Oswald de Andrade ou além de incontáveis exposições, livros, BOAVENTURA, Maria Eugênia. Semana de Arte
Moderna, o que comemorar?, 2013. Campinas.
de Mário Pedrosa e Lívio Xavier? Da artigos e teses, já foi tema de peças, fil-
revolução “técnica” ou da revolução mes e minissérie de tevê. Em 2003 foi HARDMAN, F. Foot. “Antigos modernista”. In:
“social”? Dos nacional-integralistas editada A Caixa Modernista, organizada A vingança da Hileia. São Paulo: Unesp, 2009.
São Paulo.
ou dos bolchevistas? Do Manifes- por Jorge Schwartz, uma espécie de
to Antropófago ou do Primeiro de museu portátil com trinta reprodu- LAHUERTA, Milton. “Os intelectuais e os anos
20: moderno, modernista, modernização”. In: A
Maio? (FOOT HARDMAN, p. 186, ções de itens eleitos pelo autor como década de 1920 e as origens do Brasil moder-
2009) ícones do modernismo brasileiro. Um no. Lorenzo, Helena de Carvalho e Costa, Wilma
produto caro, que tornou-se um item Peres da (org). Unesp editora, São Paulo. 1997.
É possível destacar alguns momen- raro, para colecionadores. NAPOLI, Roselis de. 1922/1972: a semana per-
tos em que a Semana foi revisitada de Em 2012, o Museu Afro Brasil rea- manece. São Paulo: EDUSP, 1980. 3 vols.
forma a evocar algumas facetas míticas, a firmou o caminho de Mário como pes- OLIVEIRA, Lúcia LIPPI. “Questão nacional na
exemplo do já citado discurso de Oswald quisador, com a exposição Mário: Eu sou Primeira República”. In: A década de 1920 e as
origens do Brasil moderno. Lorenzo, Helena de
em 1944, em Belo Horizonte a convite um Tupi Tangendo um Alaúde. 90 anos da Carvalho e Costa, Wilma Peres da (org). Unesp
de Juscelino Kubitschek, situado num Semana de Arte Moderna; tempos recen- editora, São Paulo. 1997.
campo de enfrentamento aos contornos tes, de museus plurais e comprometidos PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre
políticos finais do Estado Novo. com diversidade de nossa gente. a tristeza brasileira. São Paulo. INL. Ibrasa, 1981.
128 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020