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LIVROS
nosso sistema econômico e social. Nas palavras de Dunker (que prefacia teria que ter se constituído e acertado,
Precisamos mobilizar coletivamen- o livro de Zizek e também lançou um em sua plenitude, em um único sécu-
te nossos poderes de pensamento, livro com enfoque psicanalítico da lo? Compartilhemos da mesma utopia
a fim de formular conceitos e cate- crise), é necessário “identificarmo-nos e disposição que o professor Alysson
gorias, teorias e argumentos, que com nosso sintoma, e não apenas o Mascaro demonstra no encerramento
possamos aplicar à tarefa de levar a atribuirmos a alguma disfunção social de seu livro: “Quando as massas traba-
cabo uma transformação social hu- cosmológica ou cerebral. Identificar- lhadoras não mais pleitear o pão aos
manizadora. [...] Esses conceitos e ca- mo-nos com nosso sintoma implica ricos, tomarão os moinhos. Por hoje
tegorias não podem ser formulados que outros vírus virão, e para eles de- parecem ser quixotescos moinhos ima-
de maneira abstrata: precisam ser vemos estar mais bem preparados”. ginários, em breve tempo podem ser
forjados realisticamente em função O professor Ricardo Antunes afir- moinhos em sua materialidade. Com-
dos acontecimentos e ações à medi- ma que “a ideia de que o socialismo panheiros são os que compartilham o
da que se desdobram a nossa volta. acabou é uma ficção que, infelizmente, pão, estrutural e materialmente assim
encontra muitos adeptos. Se o capitalis- seja. Tenho esperança na luta”.
Do ponto de vista do trabalho, mo levou pelo menos três séculos para
Ricardo Antunes argumenta que as se constituir [...] por que o socialismo QUEREN RODRIGUES é economista
transformações seriam no sentido de
“reinventar o trabalho humano e so-
cial, concebendo-o como atividade
vital, livre, autodeterminada, fundada
no tempo disponível, contrariamen-
te ao trabalho assalariado alienado [o
que] “fere e confronta diretamente o
sistema de metabolismo social do ca-
pital”.
Mas será que é a exceção ou a re-
gularidade que ensina mais em termos
de crítica do capitalismo? Afinal, tudo
que se argumenta em um momento de
crise pode ser questionado do ponto
de vista de uma situação excepcional.
Boaventura nos explica que a crise na
nossa sociedade é uma crise permanen-
te, o que é uma coisa bem contraditó-
ria, visto que crise é um conceito per si
de natureza excepcional. E o objetivo
da crise permanente é justamente o
de ser justificativa para os problemas
próprios do capitalismo, que são de na-
tureza estrutural. A visão de excepcio-
nalidade da crise funciona, portanto,
como uma ideologia para a manuten-
ção de um sistema que não funciona. Coleção PANDEMIA, e-books da editora Boitempo
82 ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020