Page 84 - EP 11 completa
P. 84

LIVROS




               nosso sistema econômico e social.   Nas palavras de Dunker (que prefacia   teria que ter se constituído e acertado,
               Precisamos mobilizar coletivamen-  o livro de Zizek e também lançou um    em sua plenitude, em um único sécu-
               te nossos poderes de pensamento,   livro com enfoque psicanalítico da     lo? Compartilhemos da mesma utopia
               a fim de formular conceitos e cate-  crise), é necessário “identificarmo-nos   e disposição que o professor Alysson
               gorias, teorias e argumentos, que   com nosso sintoma, e não apenas o     Mascaro demonstra no encerramento
               possamos aplicar à tarefa de levar a   atribuirmos a alguma disfunção social   de seu livro: “Quando as massas traba-
               cabo uma transformação social hu-  cosmológica ou  cerebral. Identificar-  lhadoras não mais pleitear o pão aos
               manizadora. [...] Esses conceitos e ca-  mo-nos com nosso sintoma implica   ricos, tomarão os moinhos. Por hoje
               tegorias não podem ser formulados   que outros vírus virão, e para eles de-  parecem ser quixotescos moinhos ima-
               de maneira abstrata: precisam ser   vemos estar mais bem preparados”.     ginários, em breve tempo podem ser
               forjados realisticamente em função    O professor Ricardo Antunes afir-   moinhos em sua materialidade. Com-
               dos acontecimentos e ações à medi-  ma que “a ideia de que o socialismo   panheiros são os que compartilham o
               da que se desdobram a nossa volta.  acabou é uma ficção que, infelizmente,   pão, estrutural e materialmente assim
                                                 encontra muitos adeptos. Se o capitalis-  seja. Tenho esperança na luta”.
             Do  ponto  de vista do  trabalho,   mo levou pelo menos três séculos para
          Ricardo Antunes argumenta que as       se constituir [...] por que o socialismo    QUEREN RODRIGUES é economista
          transformações seriam no sentido de
          “reinventar o trabalho humano e so-
          cial, concebendo-o como atividade
          vital, livre, autodeterminada, fundada
          no tempo disponível, contrariamen-
          te ao trabalho assalariado alienado [o
          que] “fere e confronta diretamente o
          sistema de metabolismo social do ca-
          pital”.
             Mas será que é a exceção ou a re-
          gularidade que ensina mais em termos
          de crítica do capitalismo? Afinal, tudo
          que se argumenta em um momento de
          crise  pode  ser  questionado  do ponto
          de vista de uma situação excepcional.
          Boaventura nos explica que a crise na
          nossa sociedade é uma crise permanen-
          te, o que é uma coisa bem contraditó-
          ria, visto que crise é um conceito per si
          de natureza excepcional. E o objetivo
          da crise permanente é justamente o
          de ser justificativa para os problemas
          próprios do capitalismo, que são de na-
          tureza estrutural. A visão de excepcio-
          nalidade da crise funciona, portanto,
          como uma ideologia para a manuten-
          ção de um sistema que não funciona.    Coleção PANDEMIA, e-books da editora Boitempo





       82   ESQUERDA PETISTA #11 - Setembro 2020
   79   80   81   82   83   84   85   86   87   88   89