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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
artigo, mas isso não é motivo para se perder de vista a continuação, que
não é menos significativa. Quais serão as consequências da vitória dos
bolcheviques em um país relativamente atrasado e, além disso, arrasado
pela Guerra?
“Será no início o coletivismo da miséria, do sofrimen-
to. Mas as mesmas condições de miséria e de sofri-
mento seriam herdadas por um regime burguês. O
capitalismo não poderia imediatamente fazer na Rús-
sia mais do que poderá fazer o coletivismo. Faria hoje
muito menos, porque de imediato teria de frente um
proletariado descontente, inquieto, incapaz pratica-
mente de suportar pelos outros as dores e as amar-
guras que as dificuldades econômicas trariam (...). O
sofrimento que terá depois da paz apenas poderá ser
suportado porque os proletários perceberão que a sua
vontade, o seu apego ao trabalho é que poderão dissi-
pá-lo no menor tempo possível”.
Nesse texto, o comunismo de guerra que está para se consolidar
na Rússia soviética é, ao mesmo tempo, legitimado no plano tático e
deslegitimado no plano estratégico; legitimado pelo momento e desle-
gitimado com o olhar voltado ao futuro. O “coletivismo da miséria, do
sofrimento” é justificado pelas condições concretas pelas quais passa a
Rússia da época: o capitalismo não estaria em condições de fazer nada
melhor. Mas o “coletivismo da miséria, do sofrimento” deve ser supera-
do “no menor tempo possível”.
Não é de modo algum uma afirmação banal. Vejamos em que
modo o francês Pierre Pascal interpreta e reverencia a revolução bolche-
vique da qual é testemunho direto:
“Espetáculo único e extasiante: a demolição de uma
sociedade. Estão se realizando o quarto salmo das
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