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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA


                É preciso repreender os dirigentes e estadistas comunistas não
           pela infidelidade, mas pela excessiva fidelidade a Marx e Engels: ao
           tratar da questão nacional e camponesa, Stálin (e em maior razão Tro-
           tsky) revelou-se mais “marxista” do que “leninista”; no plano teórico,
           seu grave erro não está no fato de ele ter posposto para as calendas gre-
           gas a extinção do Estado e do mercado, mas de não ter conseguido pôr
           em discussão esta visão utópica da sociedade pós-capitalista; de modo
           que não conseguiu impedir, e por vezes até mesmo contribuiu, que fosse
           estimulada a dialética nefasta que transforma, no curso do “socialismo
           real”, a ortodoxia marxista em um voluntarismo carregado de obsessiva
           e estéril violência.
                Presos dogmaticamente a uma utopia acrítica, os defensores da
           teoria do retorno a Marx apresentam como remédio ao colapso do Leste
           o que constituiu uma das causas decisivas de sua falência. Reside aqui
           também a apressada catalogação em pequenos capítulos de história do
           capitalismo, das tentativas – mesmo confusas e com êxitos imprevisí-
           veis – de construção de uma sociedade pós-capitalista ainda em curso
           em países como Cuba, China, Coreia, Vietnã.
                Não há dúvida: para compreender a atual realidade do capita-
           lismo, não é a Lênin ou a Mao que devemos recorrer, mas a Marx. É
           preciso dirigir-se a ele para se compreender a realidade dos crescentes
           custos sociais produzidos pela apropriação privada do desenvolvimento
           das forças produtivas. As brilhantes análises de O Capital sobre a inten-
           sificação do trabalho e da exploração produzidas pelo desenvolvimento
           tecnológico capitalista falam sobre hoje, falam de um Ocidente capita-
           lista que conseguiu triunfar na Europa oriental e que faz também sen-
           tir fortemente seu peso sobre os países que reivindicam o socialismo.
           Durante um inteiro período histórico, a análise marxista será o espe-
           lho crítico não apenas do capitalismo propriamente dito, mas também
           do quanto de capitalista existir, inevitavelmente, em todo processo de
           transição para uma sociedade diferente. Assumir este ponto para liqui-
           dar como insignificante o evento histórico real iniciado em Outubro de



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