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GRAMSCI E A RÚSSIA SOVIÉTICA | DOMENICO LOSURDO


               fordismo, a filósofa francesa chega a uma conclusão contrária: é “o re-
               gime próprio da produção moderna, isto é, a grande indústria” que deve
               ser colocada em discussão; “com aquelas prisões industriais que são as
               grandes fábricas pode-se fabricar apenas escravos, e não trabalhadores
               livres” . Como fundamento para seu empenho em “valorizar a fábrica”
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               e a grande indústria, Gramsci remete corretamente a O Capital ; com
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               a mesma lógica, depois de ter rejeitado como intrinsicamente arbitrá-
               rias a “produção moderna” e a “grande indústria”, Weil condena Marx
               como profeta de uma “religião das forças produtivas”, não diferente da
               burguesia . Poderia se dizer que, aos olhos da filósofa francesa, o autor
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               de O Capital tinha sido acometido de um “americanismo” “ante litteram”.
                     Voltemos a Gramsci. Nós o vimos criticar o “antiamericanismo”
               pregado na Europa por nostálgicos se não do Antigo regime, então da
               sociedade pré-industrial. Mas isso é apenas uma vertente da polêmica.
               A outra tem como objetivo a visão que retrata o capitalismo estaduni-
               dense como um sistema caracterizado pela “homogeneidade social” .
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               Na realidade, é justamente nos EUA que, como sabemos, a luta de clas-
               se se manifesta com particular brutalidade.
                     A contradição entre operário e capital se liga (em todo caso, na
               Europa) à contradição entre burguesia industrial de tipo taylorista e
               fordista, por um lado, e riqueza parasitária e herdeira do Antigo regime,
               por outro. Eis que então surge a “questão de saber se o americanismo
               poderia se constituir numa ‘época’ histórica, isto é, se poderia determi-
               nar um avanço gradual do tipo, examinado em outro lugar, das ‘revolu-
               ções passivas’ próprias do século passado, ou se ao contrário representa-
               ria apenas a acumulação molecular de elementos destinados a produzir
               uma ‘explosão’, isto é uma agitação do tipo francês” .
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                     O espectro da revolução ressurgiu no Ocidente. E, por isso, as
               páginas sobre americanismo e fordismo nos revelam não um Gramsci
               58  WEIL, vol. 2, 1989-1991, p. 32 e 104.
               59  Q, p. 1.137-1.138.
               60  WEIL, vol. 2, 1989-1991, p. 36.
               61  Q, p. 2.181.
               62   IDEM, p. 2.140.

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