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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
micidade que aparece com particular evidência em um filósofo como
Gentile, incansável na sua exaltação retórica da ação e da práxis, mas
igualmente pronto a condenar como “mecanicismo” a transformação
real do mundo do qual é protagonista o desenvolvimento industrial
promovido pelo “americanismo” e pelo taylorismo .
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7. Marxismo ou populismo?
Até aqui tudo está muito claro. Mas quais “forças subalternas” se
opõem a uma “tentativa progressiva” ou fundamentalmente progressi-
va, e que, ao fazerem isso, por um lado, “resistem” a uma iniciativa da
burguesia e, por outro, se arriscam a fazer alianças, ou, seja como for,
correm o risco de serem confundidas com as elites europeias reacio-
nárias? Somos novamente levados a pensar em personalidades como
Pascal e Weil ou nos “anarquistas” críticos da linha dos Conselhos de
Fábrica inspirados em Gramsci .
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O Caderno sobre “Americanismo e fordismo” termina com uma
dura polêmica contra Ferrero, “pai espiritual de toda a ideologia estúpida
sobre o retorno ao artesanato” . Mas tal nostalgia era nutrida não ape-
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nas por Ferrero; a ele faz companhia não exclusivamente aquele André
Siegfried que “compara o operário taylorizado americano ao artesão da
indústria de luxo parisiense” . Não, de particular importância é a toma-
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da de posição de Weil. Com uma formação marxista sobre os ombros, e
estimulada por seu vivo interesse pela condição operária, colaborou com
jornais de inspiração socialista ou comunista (La Révolution prolétarien-
ne), se empenhou ativamente no sindicato, adquiriu uma experiência
de trabalho em fábrica. Nos anos em que Gramsci insiste no potencial
de emancipação intrínseco à grande fábrica, e, portanto, na necessidade
do movimento operário e comunista de contar com o taylorismo e o
54 IDEM, p. 635 e 2.152-2.153.
55 ON, p. 609.
56 Q, p. 2.180.
57 IDEM, p. 634.
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