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GRAMSCI E A RÚSSIA SOVIÉTICA | DOMENICO LOSURDO
Aqui se faz referência aos Estados Unidos ou à Rússia soviética?
É difícil para o primeiro país falar de “passagem” à “economia progra-
mada”. O Caderno que estamos analisando termina com a afirmação de
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por que nos EUA, contrariamente aos mitos, não apenas a luta de classe
está bem presente, como também ela se configura como a “mais des-
controlada e feroz luta de uma parte contra outra” . Mas retomemos a
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leitura do parágrafo inicial:
“Que uma tentativa progressiva seja iniciada por
uma outra força traz consequências fundamentais: as
forças subalternas, que deveriam ser ‘manipuladas’
ou racionalizadas segundo os novos fins, necessaria-
mente resistem. Mas resistem também alguns seto-
res das forças dominantes, ou pelo menos aliados às
forças dominantes” .
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Portanto, fordismo e americanismo são combatidos a partir de
pontos de vista e de forças sociais diversas e contrapostas. De um lado,
há os “lugares-comuns”, como o tão querido de Guglielmo Ferrero, que
enaltece a Europa guardiã da “qualidade” e destina o seu desprezo aos
EUA grandes defensores da “quantidade” .
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Na realidade, a “substituição pela atual classe plutocrática, de
um novo mecanismo de acumulação e distribuição do capital finan-
ceiro fundado diretamente na produção industrial” , é vista com sus-
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peita e hostilidade (numa Europa em que ainda se sente a presença
de classes ligadas ao Antigo regime e beneficiárias de uma riqueza
exclusivamente parasitária). Então, em Gramsci é clara a condenação
do “americanismo”, que “é cômico antes de ser estúpido”. É uma co-
49 § 16.
50 Q, p. 2.181.
51 IDEM, p. 2139.
52 § 16; IDEM, p. 2.180.
53 § 1, IDEM, p. 2.139-2.140.
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