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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA


                            valores produzidos – com a preparação do objeto fa-
                            bricado” .
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                Enquanto organismos revolucionários, os Conselhos de Fábrica
           superam o trade-unionismo economicista, capaz de ver o operário ape-
           nas como vendedor da sua força de trabalho empenhado em aumentar o
           preço dela por meio da organização e da luta sindical, e não como “pro-
           dutor”; e rejeitam o anarquismo, tradicionalmente inclinado ao ludismo.
                Bem compreendido, o “americanismo” é parte integrante do pro-
           jeto revolucionário, ou pelo menos de um projeto revolucionário que se
           recusa a equiparar-se ao “coletivismo da miséria, do sofrimento”, pelo
           qual continuam a ser atacados populistas e pauperistas como Pascal e
           Weil. Não por acaso, entre outubro e novembro de 1919, L’Ordine Nuovo
           publica uma série de artigos sobre o taylorismo, examinado, em última
           análise, a partir da distinção entre as “riquíssimas conquistas científi-
           cas” (das quais fala Lênin) e o seu uso capitalista.
                Podemos então compreender melhor o caderno especial 22, de-
           dicado a “Americanismo e fordismo”. Leiamos o parágrafo 1: “Série
           de problemas que devem ser examinados sob essa rubrica geral e um
           pouco convencional de ‘Americanismo e fordismo’”. Estamos diante
           de um tema “geral” que remete a uma multiplicidade de problemas e
           também de países e que é tratado com uma linguagem “convencional”,
           dada também a necessidade de estar vigilante contra uma possível in-
           tervenção da censura fascista.
                            “Pode-se dizer genericamente que o americanismo e
                            o fordismo resultam da necessidade imanente de se
                            chegar à organização de uma economia programa-
                            da, e que os vários problemas examinados deveriam
                            ser os anéis da cadeia que marcam a passagem jus-
                            tamente do velho individualismo econômico para a
                            economia programada” .
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           47  IDEM, p. 624.
           48  Q, p. 2.139.

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