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GRAMSCI E A RÚSSIA SOVIÉTICA | DOMENICO LOSURDO


               mais racionais, a introdução dos melhores sistemas de registro e con-
               trole etc.”.
                     Era preciso ir à escola dos países mais avançados do Ocidente ca-
               pitalista: “A república soviética deve a todo custo assimilar tudo o que
               lhe é valioso das conquistas no campo da ciência e da técnica. A possi-
               bilidade de realizar o socialismo será determinada precisamente pelos
               êxitos que seremos capazes de conseguir com a união do poder soviético
               e da organização administrativa soviética com os mais recentes avanços
               do capitalismo” .
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                     É uma tese reafirmada por Lênin, por exemplo em outubro de
               1920: “Nós queremos transformar a Rússia de país desfavorecido e
               pobre em país rico”; para obter esse resultado, é preciso “um trabalho
               organizado”, “um trabalho consciente e disciplinado”, com o fim de
               assimilar e colocar em prática “as últimas conquistas da técnica”,
               inclusive evidentemente o taylorismo americano . Contra o “asiatis-
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               mo”, o “americanismo” poderia desempenhar um papel positivo.
                     Pascal não concorda. Na segunda metade dos anos 1920, ele la-
               menta que “de um ponto de vista material, se está caminhando para a
               americanização” (entendida como o culto idólatra do desenvolvimento
               econômico e tecnológico); é verdade, foram obtidos alguns avanços eco-
               nômicos, mas “à custa de uma enorme exploração da classe operária” .
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               Nessa linha de pensamento, mas com uma atitude mais radical, se en-
               contra, na França, Simone Weil que em 1932 chegou à conclusão de que
               a Rússia tinha como modelo a América, a eficiência, o produtivismo, “o
               taylorismo”, a subordinação do operário à produção: “O fato de que Stá-
               lin, sobre tal questão que se encontra no centro do conflito entre capital
               e trabalho, tenha abandonado o ponto de vista de Marx, e se deixou
               seduzir pelo sistema capitalista em sua forma mais perfeita, demonstra
               que a URSS ainda está bem longe de possuir uma cultura operária” .
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               38  IDEM, p. 27; 231.
               39  IDEM, p. 31; 283-284.
               40  PASCAL, 1982, p. 34 e 33.
               41  WEIL, 1989-1991, vol. 1, p. 106-107.

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