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MARXISMO E A QUESTÃO NACIONAL (...)  | PAUTASSO - FERNANDES - DORIA


                     Por certo, a questão nacional, ao invés de superada, torna-se
               mais complexa e mais atual, dados a velocidade das transformações e
               os desafios de qualquer luta de libertação. A articulação entre a ques-
               tão nacional e o caráter multifacetado e multiescalar das lutas de clas-
               ses torna a práxis ainda mais desafiante. A melhor forma de lidar com
               o “socialismo real” não é fugindo à história (LOSURDO, 2004), mas
               compreendendo-a como um importante e longo primeiro aprendizado
               (AMIN, 2010, p. 35) cuja atualidade é reposta pela contemporaneidade.
               Ou seja, é inegável que o sistema mundial está prenhe de contradições
               e potenciais mudanças, decorrentes da inédita polarização de riqueza
               (PIKETTY, 2014), da intensificação laboral/proletarização globalizada e
               do gigantesco potencial tecnológico da terceira revolução industrial (e
               da assim chamada indústria 4.0), tudo isso num quadro de profundo
               reordenamento do poder mundial.


                                      Considerações finais


                     O debate sobre a questão nacional é crucial por ser o guarda-chu-
               va sem o qual não se alcança a autonomia do país (soberania) e o de-
               senvolvimento nacional; não se logra a capacidade de formular políticas
               públicas e contemplar as diversas demandas sociais e identitárias; não
               se consegue democratizar os mecanismos de funcionamento do apare-
               lho de Estado e suas instituições. Daí a importância de a questão nacio-
               nal ser compreendida, nos termos da teoria geral do conflito social, na
               medida em que as formas de opressão e exploração aparecem entrelaça-
               das, sobrepostas, hierarquizadas e estruturadas pelo conflito de classe, como
               destaca Losurdo.
                     Do contrário, tais pautas são capturadas por abordagens liberais
               e pós-modernas, produzindo efeitos contrários ao desejado – e frequen-
               temente involuntários – na própria esquerda. Em outras palavras, ou a
               questão nacional articula a unidade na diversidade ou tribos endogâmi-
               cas, microidentidades e corporativismo exacerbados acabam por esva-



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