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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
são do desaparecimento do Estado (e até do poder) dificultou o processo
democrático nas experiências socialistas, notadamente a participação,
as decisões baseadas em regras e a necessidade da limitação do poder.
Além do mais, o definhamento do Estado se torna ingênuo no quadro
do sistema interestatal, dada a prerrogativa de defesa da ordem e da
segurança. Ou seja, mais uma vez os desafios nacionais não podem ser
projetados desconsiderando-se a complexidade e as assimetrias da or-
dem internacional.
Na atualidade, a questão nacional frequentemente implica a de-
fesa da soberania e das instituições multilaterais. É o meio de se opor à
escalada intervencionista dos Estados Unidos e seus aliados que vem se
desenvolvendo através da “intervenção humanitária” e da “responsa-
bilidade de proteger” ; do recrudescimento da política de regime change
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(Golpes Constitucionais, Revoluções Coloridas, Primavera Árabe); das
intervenções abertas na Guerra Global ao Terror ou mesmo em agres-
sões por meio de drones e kill list; embargos e sanções frequentemente à
margem das organizações internacionais; entre outras formas de inter-
venção e desestabilização direta e indireta (MONIZ BANDEIRA, 2014;
LOSURDO, 2016, p. 125-126; 153; 188-191). Ou seja, “arrogando-se o
direito de declarar superada a soberania de outros Estados, as grandes
potências ocidentais atribuem a si próprias uma soberania dilatada”
(LOSURDO, 2015a, p. 281).
É, como destaca Losurdo (2016), uma ordem internacional mar-
cada por crises, sociedade do espetáculo e guerras. O ataque neoliberal
ao Estado de Bem-Estar não apenas faz recrudescer as desigualdades,
no plano econômico, mas se soma à fragilização da democracia, de suas
instituições e entidades sociais (como sindicatos), no plano político, e
ao neocolonialismo e o intervencionismo, no plano internacional. Um
neocolonialismo atualizado pela espetacularização da guerra, pela guer-
ra psicológica (Psywar), pela revolução nos assuntos militares (RMA),
pela utilização mobilização das comunicações para desestabilização (In-
15 Ver aprofundamento desse estudo a partir do caso da Líbia em Pautasso; Azeredo (2010).
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