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MARXISMO E A QUESTÃO NACIONAL (...)  | PAUTASSO - FERNANDES - DORIA


                     A questão nacional é complexa porque em algumas circunstâncias
               a luta de classes (questão social) se entrelaça à luta nacional (questão
               nacional); em outras, a luta nacional assume forma xenófoba ou mes-
               mo se presta a interesses imperialistas (LOSURDO, 2015a, p. 153-154).
               Conforme Losurdo (2010), mesmo movimentos aparentemente justos
               e progressistas podem carregar no seu interior ideias reacionárias e xe-
               nófobas. O movimento de luta antinapoleônico na Alemanha é tam-
               bém uma reação à Revolução de 1789 e às ideias iluministas trazidas
               por ela. O mesmo poderíamos dizer do chauvinismo impregnado em
               certos movimentos contrários à União Europeia que tratam os imigran-
               tes como responsáveis pelo desemprego entre os trabalhadores brancos.
               Logo, alerta Losurdo (2015) que reinvindicações nacionais, mesmo que
               justas, podem perder legitimidade se forem absorvidas por interesses
               que se constituem muito mais sérios para liberdade e emancipação das
               nações. Ou seja, nacionalismo pode ser aquele que defende a afirma-
               ção de identidades nacionais, as lutas anti-imperialistas, a promoção do
               desenvolvimento nacional; ou aquele que propugna o expansionismo,
               a guerra e a supremacia racial. O internacionalismo também pode ser
               a defesa das bases morais e jurídicas globais do capitalismo; ou pode
               ser os movimentos que lutam por uma sociedade que supere a lógica
               do capital. Ou seja, as expressões nível nacional e internacional abrigam
               impropriedades gramaticais, falsos antagonismos e hierarquias pouco
               convincentes (DOMINGOS; MARTINS, 2007, p. 2-4; 20).
                     Ora, não existe ordem internacional sem Estados nacionais; a pró-
               pria difusão de bens, informações e serviços em escala global não retira,
               mas confere sentido crescente às nações. Isto é, as nações não são fruto
               de veleidades exclusivistas, apesar da defesa guerreira do espaço físico e
               do apego afetivo (sagrado) ao território, mas filha dileta da internacio-
               nalidade, da intensa circulação de bens, serviços e ideias (DOMINGOS;
               MARTINS, 2007, p. 2-4). Em outras palavras, o Estado territorial (na-
               cional) se tornou mais – e não menos – importante para a organização
               dos circuitos econômicos da internacionalização. Atualmente ele é o ga-



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