Page 71 - LOSURDO COMPLETO versão digital_Spread
P. 71
MARXISMO E A QUESTÃO NACIONAL (...) | PAUTASSO - FERNANDES - DORIA
A questão nacional é complexa porque em algumas circunstâncias
a luta de classes (questão social) se entrelaça à luta nacional (questão
nacional); em outras, a luta nacional assume forma xenófoba ou mes-
mo se presta a interesses imperialistas (LOSURDO, 2015a, p. 153-154).
Conforme Losurdo (2010), mesmo movimentos aparentemente justos
e progressistas podem carregar no seu interior ideias reacionárias e xe-
nófobas. O movimento de luta antinapoleônico na Alemanha é tam-
bém uma reação à Revolução de 1789 e às ideias iluministas trazidas
por ela. O mesmo poderíamos dizer do chauvinismo impregnado em
certos movimentos contrários à União Europeia que tratam os imigran-
tes como responsáveis pelo desemprego entre os trabalhadores brancos.
Logo, alerta Losurdo (2015) que reinvindicações nacionais, mesmo que
justas, podem perder legitimidade se forem absorvidas por interesses
que se constituem muito mais sérios para liberdade e emancipação das
nações. Ou seja, nacionalismo pode ser aquele que defende a afirma-
ção de identidades nacionais, as lutas anti-imperialistas, a promoção do
desenvolvimento nacional; ou aquele que propugna o expansionismo,
a guerra e a supremacia racial. O internacionalismo também pode ser
a defesa das bases morais e jurídicas globais do capitalismo; ou pode
ser os movimentos que lutam por uma sociedade que supere a lógica
do capital. Ou seja, as expressões nível nacional e internacional abrigam
impropriedades gramaticais, falsos antagonismos e hierarquias pouco
convincentes (DOMINGOS; MARTINS, 2007, p. 2-4; 20).
Ora, não existe ordem internacional sem Estados nacionais; a pró-
pria difusão de bens, informações e serviços em escala global não retira,
mas confere sentido crescente às nações. Isto é, as nações não são fruto
de veleidades exclusivistas, apesar da defesa guerreira do espaço físico e
do apego afetivo (sagrado) ao território, mas filha dileta da internacio-
nalidade, da intensa circulação de bens, serviços e ideias (DOMINGOS;
MARTINS, 2007, p. 2-4). Em outras palavras, o Estado territorial (na-
cional) se tornou mais – e não menos – importante para a organização
dos circuitos econômicos da internacionalização. Atualmente ele é o ga-
71