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LOSURDO. PRESENÇA E PERMANÊNCIA
enquanto os marxistas ocidentais denunciavam o poder, buscavam um
marxismo “autêntico”, forjavam ideias messiânicas de sociedades pós-
-capitalistas, no Oriente, as experiências revolucionárias se ocuparam
de exercer o poder, forjar a independência e o desenvolvimento a partir
de adversos cenários nacionais e mundiais (IDEM, 2018a, p. 186).
Na outra obra, ao problematizar histórica e teoricamente a cons-
trução de um mundo sem guerras, Losurdo reafirma o imperativo da
autodeterminação dos povos, assim como, no seu reverso, expõe as con-
tradições das narrativas imperiais. Isto é, tem sido recorrente utilizar a
condição de potência para impor interesses por meio do recurso à força,
embora recorrendo a discursos de “xerife internacional”, de promotor
da “democracia universal”, de “intervenções humanitárias” ou mesmo
da “responsabilidade de proteger”. E assim ele (p. 384) sintetiza o ar-
gumento:
A pretensão de um país ou grupo de países de
serem intérpretes privilegiados ou exclusivos de va-
lores universais, que eles estariam autorizados a pro-
teger mesmo com a utilização unilateral e soberana
das armas, serve apenas para sancionar a lei do mais
forte no campo internacional, eternizando a guerra
e tornando ainda mais difícil a concretização da paz.
Aos desafios do sistema internacional, somam-se àqueles decor-
rentes das reestruturações do capitalismo e do mundo do trabalho. Com
a terciarização e a terceirização, criam-se descompassos entre ocupa-
ções sem sujeitos históricos identificáveis e as formas tradicionais de re-
presentação, forjando movimentos sociais marcados por certo niilismo
fragmentário e dispersante. A onda verde, o empreendedorismo social
e o pluralismo identitário se projetaram após as lutas de maio de 1968,
se amalgamando com o individualismo e o consumismo pós-modernos
(POCHMANN; MORAES, 2017).
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