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MARX, CRISTÓVÃO COLOMBO E A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO | DOMENICO LOSURDO


               outro trono, reclamadas pelos descendentes dos Habsburgo, dos Savoia
               ou de outras dinastias, estão destinadas ao fracasso. Em outros campos,
               porém, o processo de restauração demonstra-se bem mais ameaçador.
               Isso se confirma, em primeiro lugar, pela explícita reabilitação do co-
               lonialismo atualmente em curso. Com um artigo do ilustre historiador
               liberal-conservador Paul Johnson, o New York Times exulta já no título:
               “Enfim volta o colonialismo, estava na hora”. Popper invoca o Ocidente
               para impor a “pax civilitatis” por meio de guerras, como a do Golfo, contra
               países que, segundo ele, “liberamos, com muita pressa e muito simplo-
               riamente”: [é como] “largar uma escola maternal a seu próprio destino”.
                       Os povos do Terceiro Mundo novamente, como nos tempos de
               Rudyard Kipling, voltam a ser considerados meio crianças, meio diabos.
               Segundo o filósofo liberal já elevado a responsável cultural do Estado-
               -Maior “ocidental”, na medida em que eles se revelarem rebeldes ou
               diabos, o Ocidente tem o direito e o dever de declarar contra eles a Cru-
               zada e a guerra santa em nome da civilização e da paz. Não por acaso, o
               colapso da URSS coincidiu com a guerra do Golfo, desencadeada – como
               reconhecem hoje seus arautos – por “todas as potências industriais”,
               decididas em manter baixo o preço do petróleo, “sufocando a hipótese
               de mais uma crise do petróleo, que haveria freado o impulso de expan-
               são do capitalismo ocidental” (SCALFARI, Eugenio, in La Repubblica,
               26/27 de janeiro de 1992); uma guerra em que os EUA não hesitaram
               em “exterminar os iraquianos, fugitivos e desarmados” (BOCCA, Gior-
               gio, La Repubblica, 6 de fevereiro de 1992).
                       Na grande imprensa internacional, pode-se até ler – sem que
               isso provoque indignação – que os bombardeios das capitais do Oriente
               Médio ou do Sul do planeta foram decididos com base em sondagens
               de opinião e eleições: a destruição, ou a morte, infligidas aos bárbaros
               tornam-se spots publicitários; tal invenção faria a felicidade de Goeb-
               bels! Nem as revelações acerca da possibilidade planejada pelo Estado-
               -Maior americano de um eventual emprego de bombas atômicas contra
               o Iraque (de qualquer  modo, novas e misteriosas armas parece que



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