Page 93 - LOSURDO COMPLETO versão digital_Spread
P. 93
MARX, CRISTÓVÃO COLOMBO E A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO | DOMENICO LOSURDO
“Despotismo asiático” e totalitarismo
Falamos pouco, até o presente momento, sobre os desenvolvimen-
tos internos do país originado pelo Outubro bolchevique. De que modo po-
demos caracterizar o regime que acabou por impor-se na União Soviética?
Às vezes é afirmado como expressão de “despotismo asiático” ou oriental
em geral. Tal tese ignora a grande força emancipadora desdobrada pela
revolução bolchevique e por outras de inspiração comunista; sobrevoa de
forma desenvolta sobre o fato de não poucos países do Terceiro Mundo
conseguirem libertar-se do despotismo oriental ou imposto pelo Ocidente
só em virtude da onda revolucionária proveniente de Outubro de 1917;
não leva em consideração o fato de o próprio Lênin ter sido um dos mais
lúcidos e implacáveis críticos do atraso asiático e o fato de ele mesmo ter
tornado evidente o apoio frequentemente dado por esta ou aquela gran-
de potência aos regimes políticos que entendiam eternizar tal atraso. (Na
atualidade, com o apoio de quem a monarquia saudita pode contar para
sobreviver?) Mesmo limitando nossa atenção ao desenvolvimento interno
da União Soviética, vimos Lawrence Stone sublinhar o efeito modernizador
do regime comunista. Mesmo com relação ao período stalinista, o horror
é apenas uma face da moeda. A outra pode ser sintetizada por alguns nú-
meros e dados retomados por autores insuspeitos: “o Quinto Plano Quin-
quenal para a educação representa um esforço organizado para o combate
ao analfabetismo”; ulteriores iniciativas em âmbito escolar desenvolvem
“uma inteira nova geração de operários especializados e técnicos e admi-
nistradores tecnicamente preparados”. Entre 1927-1928 e 1932-1933, a
população da Universidade e dos Institutos superiores passou de 160 mil
para 470 mil unidades; a porcentagem de estudantes de origem operária
de ¼ para ½. “Edificam-se novas cidades, e reconstroem-se as antigas”; o
surgimento de novos gigantescos complexos industriais acompanha uma
grande mobilidade vertical que marca “a ascensão na escala social de cida-
dãos capazes e ambiciosos de origem operária ou camponesa” .
5
5 TUCKER, R. C. Stálin in Power. The Revolution from Above, 1928-1941, Nova Iorque-Londres, Norton, 1990, p. 201,
102 e 324.
93