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MARX, CRISTÓVÃO COLOMBO E A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO | DOMENICO LOSURDO


                             “Despotismo asiático” e totalitarismo


                     Falamos pouco, até o presente momento, sobre os desenvolvimen-
               tos internos do país originado pelo Outubro bolchevique. De que modo po-
               demos caracterizar o regime que acabou por impor-se na União Soviética?
               Às vezes é afirmado como expressão de “despotismo asiático” ou oriental
               em geral. Tal tese ignora a grande força emancipadora desdobrada pela
               revolução bolchevique e por outras de inspiração comunista; sobrevoa de
               forma desenvolta sobre o fato de não poucos países do Terceiro Mundo
               conseguirem libertar-se do despotismo oriental ou imposto pelo Ocidente
               só em virtude da onda revolucionária proveniente de Outubro de 1917;
               não leva em consideração o fato de o próprio Lênin ter sido um dos mais
               lúcidos e implacáveis críticos do atraso asiático e o fato de ele mesmo ter
               tornado evidente o apoio frequentemente dado por esta ou aquela gran-
               de potência aos regimes políticos que entendiam eternizar tal atraso. (Na
               atualidade, com o apoio de quem a monarquia saudita pode contar para
               sobreviver?) Mesmo limitando nossa atenção ao desenvolvimento interno
               da União Soviética, vimos Lawrence Stone sublinhar o efeito modernizador
               do regime comunista. Mesmo com relação ao período stalinista, o horror
               é apenas uma face da moeda. A outra pode ser sintetizada por alguns nú-
               meros e dados retomados por autores insuspeitos: “o Quinto Plano Quin-
               quenal para a educação representa um esforço organizado para o combate
               ao analfabetismo”; ulteriores iniciativas em âmbito escolar desenvolvem
               “uma inteira nova geração de operários especializados e técnicos e admi-
               nistradores tecnicamente preparados”. Entre 1927-1928 e 1932-1933, a
               população da Universidade e dos Institutos superiores passou de 160 mil
               para 470 mil unidades; a porcentagem de estudantes de origem operária
               de ¼ para ½. “Edificam-se novas cidades, e reconstroem-se as antigas”; o
               surgimento de novos gigantescos complexos industriais acompanha uma
               grande mobilidade vertical que marca “a ascensão na escala social de cida-
               dãos capazes e ambiciosos de origem operária ou camponesa” .
                                                                       5
               5  TUCKER, R. C. Stálin in Power. The Revolution from Above, 1928-1941, Nova Iorque-Londres, Norton, 1990, p. 201,
               102 e 324.

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