Page 293 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 293
CAPÍTULO 32
A SANGRENTA VITÓRIA da Família Corleone só se tomou completa quando, após um ano
de delicadas manobras políticas, Michael Corleone conseguiu firmar-se como o chefe da Família
mais poderosa dos Estados Unidos. Durante doze meses, Michael dividiu seu tempo igualmente
entre o seu quartel-general na alameda de Long Beach e o seu novo lar em Las Vegas. Mas no
fim daquele ano resolveu encerrar as operações em Nova York e vender as casas e a
propriedade da alameda. Para esse fim, levou toda a família para o leste para uma última visita.
Ficariam lá um mês, liquidando os negócios, Kay cuidaria da embalagem e embarque dos
objetos caseiros da família. Havia um milhão de outros pequenos detalhes.
Agora a Família Corleone estava absoluta, e Clemenza tinha a sua própria Família. Rocco
Lampone era o caporegime dos Corleone. Em Nevada, Albert Neri era o chefe de todo o serviço
de segurança dos hotéis controlados pela Família. Hagen, também, fazia parte da Família oriental
de Michael.
O tempo ajudava a sarar as velhas feridas. Connie Corleone reconciliou-se com o irmão
Michael. De fato, não mais do que uma semana depois de suas terríveis acusações, ela pediu
desculpas a Michael pelo que dissera e garantiu a Kay que não havia qualquer verdade em suas
palavras, que aquilo fora apenas um ataque de histeria de uma viúva jovem.
Connie Corleone achou facilmente um segundo marido; de fato, ela não esperou que se
passasse o ano tradicional de respeito para partilhar a sua cama com um distinto rapaz que viera
trabalhar na Família Corleone como secretário. Um jovem de uma boa família italiana formado
por uma das melhores escolas de comércio da América.
Kay Adams Corleone proporcionou grande satisfação aos parentes afins, ao procurar
instruir-se sobre a religião católica e converter-se a essa fé. Os seus dois meninos foram
também, naturalmente, educados no catolicismo, como era de desejar. Michael pessoalmente,
porém, não ficou muito contente. Ele preferia que os filhos fossem protestantes, isso era mais
americano.
Para sua surpresa, Kay passou a gostar de viver em Nevada. Ela adorava o cenário, os
montes e gargantas da rocha espalhafatosamente vermelha, os desertos escaldantes, os
inesperados e venturosamente refrescantes lagos, e até o calor. Os dois meninos montavam em
seus próprios pôneis. Ela tinha criados verdadeiros, não guarda-costas. E Michael levava uma
vida mais normal. Possuía um negócio de construção; pertencia aos clubes dos homens de
negócios e aos comitês cívicos; tinha um sadio interesse pela política local, sem interferir
publicamente. Era uma vida boa. Kay sentia-se feliz porque estavam acabando com a casa de
Nova York e passariam a morar definitivamente em Las Vegas. Ela detestava voltar a Nova
York. E assim, nessa última viagem, ela providenciara toda a embalagem e embarque dos
objetos caseiros com a máxima eficiência e rapidez, e agora no último dia sentia a mesma
premência de partir que sentem os pacientes que recebem alta depois de passar um longo
período no hospital.
Nesse último dia, Kay Adams Corleone acordou muito cedo. Ouvia o ronco dos motores dos
caminhões fora da alameda. Os caminhões que esvaziariam todas as casas, levando toda a
mobília. A Família Corleone voltaria de avião para Las Vegas de tarde, inclusive a Sra. Corleone.
Quando Kay saiu do banheiro, Michael estava sentado na cama com a cabeça apoiada no
travesseiro fumando um cigarro.
— Por que diabo você tem de ir à igreja toda manhã? — perguntou ele. — Não digo aos
domingos, mas por que diabo durante a semana? Você é tão má quanto minha mãe.
Ele estendeu a mão no escuro e acendeu a lâmpada da mesinha-de-cabeceira.
Kay sentou-se na beira da cama para calçar as meias.
— Você sabe como são os católicos convertidos — respondeu ela. — Levam a coisa muito a
sério.
Michael estendeu a mão para pegar na coxa dela, na pele quente onde terminava a