Page 289 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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choque, ele pensou que tivesse sofrido um ataque de nervos. As palavras de Michael fizeram-no
  sentir-se realmente doente, fisicamente enjoado.
    — Você tem de responder pela morte de Santino — disse Michael.
    Carlo  não  respondeu,  fingindo  não  entender.  Hagen  e  Lampone  separaram-se,  indo  para
  paredes opostas da sala. Carlo e Michael encararam-se.
    — Você entregou Sonny ao pessoal de Barzini — disse Michael categoricamente. — Aquela
  pequena farsa que você desempenhou com minha irmã, será que Barzini o enganou dizendo que
  isso tapearia um Corleone?
    Canto Rizzi respondeu apavorado, sem dignidade, sem qualquer vestígio de orgulho:
    — Juro que sou inocente. Juro pela cabeça de meus filhos que sou inocente. Mike, não me
  faça isso, por favor, Mike, não me faça isso.
    —  Barzini  está  morto  —  retrucou  Michael  tranqüilamente:  —  Phillip  Tattaglia  também.
  Quero ajustar todas as contas da Família esta noite. Portanto, não me diga que você é inocente.
  Seria melhor que você admitisse que é culpado.
    Hagen  e  Lampone  olharam  para  Michael  com  espanto.  Estavam  pensando  que  Michael
  ainda não era o homem que o pai fora. Por que tentar fazer esse traidor confessar-se culpado?
  Tal culpa já estava tão provada quanto uma coisa como essa podia sê-lo, A resposta era evidente.
  Michael  ainda  não  tinha  tanta  confiança  em  sua  razão,  ainda  receava  ser  injusto,  ainda  se
  preocupava  com  aquela  fração  de  incerteza  que  apenas  uma  confissão  de  Carlo  Rizzi  podia
  apagar.
    Ainda não houve resposta. Michael disse quase bondosamente:
    — Não fique tão assustado. Você pensa que vou tornar minha irmã viúva? Você pensa que
  vou tornar meus sobrinhos órfãos de pai? Afinal de, contas, sou padrinho de um dos seus filhos.
  Não, o seu castigo será que você não poderá trabalhar com a Família. Vou-lhe pôr num avião
  para Las Vegas para você se unir á sua mulher e filhos e quero que você fique por lá. Mandarei
  uma  mesada  para  Connie.  Só  isso.  Mas  não  diga  que  você  é  inocente,  não  insulte  minha
  inteligência e não me irrite. Quem o procurou,Tattaglia ou Barzini?
    Carlo Rizzi em sua angustiosa esperança de salvar a vida, em seu suave alívio de que não iria
  ser morto, murmurou:
    — Barzini.
    — Ótimo, ótimo — disse Michael brandamente. Fez um sinal com a mão direita dizendo: —
  Quero que você parta agora. Há um carro esperando para levar você ao aeroporto.
    Carlo saiu pela porta, seguido de perto pelos três homens. Era noite agora, mas a alameda
  como de costume estava iluminada pelos holofotes. Um carro parou. Carlo viu que era o seu
  próprio  carro.  Não  reconheceu  o  motorista.  Havia  alguém  sentado  atrás,  mas  no  lado  oposto.
  Lampone abriu a porta da frente e fez sinal para Carlo entrar. Michael disse:
    — Vou telefonar para sua mulher e dizer que você está a caminho.
    Carlo entrou no carro. A sua camisa de seda estava ensopada de suor.
    O veículo partiu, movendo-se rapidamente na direção do portão. Carlo começou a virar a
  cabeça  para  ver  se  conhecia  o  homem  que  estava  sentado  atrás  dele.  Naquele  momento,
  Clemenza, tão ardilosa e graciosamente como uma menina colocando uma fita na cabeça de um
  gatinho, lançou o garrote em volta do pescoço de Carlo Rizzi. A corda lisa começou a cortar-lhe
  penetrantemente  a  pele  à  medida  que  Clemenza  o  estrangulava  puxando  a  corda  com  toda  a
  força;  o  corpo  de  Rizzi  saltou  no  ar  como  um  peixe  numa  linha  de  pesca,  mas  Clemenza
  segurava-o firme, apertando o garrote até que o corpo ficou mole. De repente, sentiu um mau
  cheiro  no  interior  do  carro.  O  corpo  de  Carlo,  com  o  esfíncter  solto  pela  morte  que  se
  aproximava,  descarregou  os  excrementos.  Clemenza  continuou  a  apertar  o  garrote  por  mais
  alguns minutos por medida de segurança, depois soltou a corda e enfiou-a no bolso. Recostou-se
  no  assento  acolchoado,  enquanto  o  corpo  de  Carlo  tombava  de  encontro  à  porta.  Após  alguns
  momentos, Clemenza abaixou o vidro da janela para deixar sair o fedor.
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