Page 290 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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A vitória da Família Corleone foi completa. Durante esse mesmo período de 24 horas,
Clemenza e Lampone soltaram os seus regimes e puniram os infiltradores dos domínios dos
Corleone. Neri foi enviado para assumir o comando do regime de Tessio. Os bookmakers de
Barzini foram postos fora de ação; dois dos maiores valentões dos Barzini foram assassinados a
tiros quando jantavam tranqüilamente num restaurante italiano da Mulberry Street. Um famoso
amolecedor de páreos das corridas de trote foi abatido ao voltar para casa depois de uma noite
em que ganhou bastante nas corridas. Dois dos maiores agiotas do cais do porto desapareceram,
sendo encontrados meses depois nos pântanos de Nova Jersey.
Com esse único ataque selvagem, Michael Corleone fez a sua reputação e repôs a Família
Corleone no seu lugar de destaque entre as Famílias de Nova York. Tornou-se respeitado não
somente pelo seu brilhantismo tático, mas porque alguns dos mais importantes caporegimes das
Famílias Barzini e Tattaglia imediatamente se passaram para o seu lado.
Foi um triunfo perfeito para Michael Corleone, com exceção da demonstração de histeria
dada por sua irmã.
Connie voltou de avião para casa em companhia da mãe, deixando as crianças em Las
Vegas. Ela conteve a sua dor de viúva até a limusine entrar na alameda. Então, antes de poder
ser contida pela mãe, ela saiu correndo pela rua calçada da alameda em direção à casa de
Michael Corleone. Atravessou furiosamente a porta e encontrou Michael e Kay na sala de estar.
Kay partiu para ir de encontro a ela, para confortá-la e tomá-la nos braços num amplexo de
irmã, mas parou logo quando Connie começou a gritar pragas e insultos para o irmão.
— Seu patife nojento! — gritou ela. — Você matou meu marido! Você esperou que nosso
pai morresse, para que ninguém pudesse detê-lo, e matou meu marido! Você o matou! Você o
culpou pela morte de Sonny, você sempre o culpou, todo mundo o culpou. Mas nunca pensou em
mim. Você nunca ligou para mim. Que é que vou fazer agora, que é que vou fazer?
Ela estava gemendo. Dois dos guarda-costas de Michael tinham vindo atrás dela e
esperavam ordens dele. Mas Michael permaneceu ali impassível, esperando que a irmã
terminasse o seu desabafo.
— Connie, você está perturbada, não diga essas coisas — atalhou Kay com voz emocionada.
Connie recuperou-se da histeria. Com a voz cheia de veneno, falou:
— Por que você pensa que ele sempre estava tão frio comigo? Por que você pensa que ele
conservou Carlo aqui na alameda? Durante todo o tempo, ele sabia que ia matar meu marido.
Mas não se atreveu, enquanto meu pai estava vivo. Meu pai o teria detido. Ele sabia disso. Estava
apenas esperando. Então serviu de padrinho para o nosso filho só para nos despistar. O patife sem
coração! Você pensa que conhece seu marido? Você sabe quantos homens ele matou como meu
Carlo? Basta ler os jornais. Barzini e Tattaglia e os outros. Meu irmão matou todos eles.
Ela teve novo ataque de histeria. Tentou cuspir no rosto de Michael, mas não tinha saliva.
— Leve-a para casa e consiga um médico para ela — disse Michael.
Os dois guarda.costas imediatamente agarraram os braços de Connie e puxaram-na para
fora de casa.
Kay ainda estava chocada, sentia-se horrorizada. Perguntou ao marido:
— Que foi que fez Connie dizer todas aquelas coisas, Michael, que é que a faz acreditar
naquilo?
Michael deu de ombros e respondeu:
— Ela é histérica.
Kay olhou dentro dos olhos dele.
— Michael, não é verdade, por favor diga que não é verdade!
Michael balançou a cabeça com um ar cansativo.
— Claro que não é verdade. Acredite em mim, desta vez estou deixando você me fazer
perguntas sobre meus negócios, e estou respondendo. Não é verdade.
Ele nunca foi mais convincente. Olhou diretamente dentro dos olhos da mulher. Estava