Page 286 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 286

pizza quente e serviu-o num prato de papel. Mas o freguês, em vez de dar-lhe o dinheiro da pizza,
  estava olhando fixamente para ele.
    — Ouvi dizer que você tem uma tatuagem grande no peito — disse o freguês. — Estou vendo
  a parte superior dela por cima de sua camisa, quer-me deixar ver o resto dela?
    O balconista ficou gelado. Parecia paralisado.
    — Abra a camisa — ordenou o freguês.
    O balconista balançou a cabeça.
    — Não tenho tatuagem — respondeu, num inglês carregadamente acentuado. — O homem
  que trabalha de noite é que tem.
    O freguês deu uma gargalhada soturna, forçada.
    — Vamos, desabotoe a camisa, deixe-me ver..
    O balconista começou a recuar para o fundo da casa, procurando contornar o enorme forno.
  Mas o freguês ergueu a mão acima do balcão. Havia um revólver nela. Ele atirou. A bala atingiu
  o balconista no peito e jogou-o contra o forno. O freguês atirou novamente no corpo do balconista
  e este tombou no chão. O freguês deu a volta pelo balcão, abaixou-se e abriu violentamente a
  camisa,  arrancando-lhe  os  botões.  O  peito  do  balconista  estava  coberto  de  sangue,  mas  a
  tatuagem  se  mostrava  bem  visível:  os  amantes  entrelaçados  e  a  faca  transfixando-os.  O
  balconista  levantou  debilmente  um  dos  braços  como  que  para  se  proteger.  O  pistoleiro  falou
  então:
    — Fabrizzio, Michael Corleone manda-lhe lembranças.
    Estendeu  o  braço  de  forma  que  o  revólver  ficasse  a  poucos  centímetros  do  crânio  do
  balconista e puxou o gatilho. Depois saiu da pizzaria. A poucos metros, um carro esperava por ele
  com a porta aberta. Ele saltou para dentro e o carro arrancou velozmente.
    Rocco Lampone atendeu ao telefone instalado numa das colunas de ferro do portão e ouviu
  alguém dizer:
    — A sua encomenda está pronta — e em seguida desligou.
    Rocco entrou no seu carro e saiu da alameda. Atravessou a pista elevada de Jones Beach, a
  mesma  na  qual  Sonny  fora  assassinado,  e  seguiu  até  a  estaçâo  ferroviária  de  Wantagh.
  Estacionou seu carro ali. Outro carro estava esperando por ele com dois homens no seu interior.
  Foram até a um motel situado a dez minutos de distância na Estrada Sunrise e estacionaram em
  seu pátio. Rocco Lampone, deixando os dois homens no carro, dirigiu-se para um dos pequenos
  bangalôs tipo chalé. Um só pontapé fez a porta saltar das dobradiças e Rocco pulou dentro do
  quarto.
    Phillip Tattaglia, com 70 anos de idade e nu como um bebê, estava em pé numa cama na
  qual  se  achava  deitada  uma  mulher  jovem.  A  basta  cabeleira  de  Philhip  Tattaglia  estava
  completamente preta, mas o pêlo de seu púbis era totalmente branco. O seu corpo tinha a suave
  forma roliça de uma ave. Rocco despejou-lhe quatro balas, todas na barriga. Depois virou-se e
  voltou correndo para o carro. Os dois homens deixaram-no na estação de Wantagh. Ele apanhou
  o seu carro e retornou à alameda. Foi lá dentro falar com Michael Corleone por um momento e
  depois saiu e reassumiu seu posto no portão.
    Albert  Neri,  sozinho  em  seu  apartamento,  terminou  de  aprontar  seu  uniforme.
  Vagarosamente  começou  a  se  vestir:  calças,  camisa,  gravata,  paletó,  coldre  e  cinturão.  Ele
  devolveu  o  seu  revólver  quando  foi  suspenso  da  polícia,  mas,  por  qualquer  negligência
  administrativa,  não  o  fizeram  devolver  o  escudo.  Clemenza  fornecera-lhe  um  revólver
  regulamentar da polícia, de calibre 38, cuja origem não podia ser identificada. Neri desmontou-
  o,  lubrificou-o,  examinou  o  cão,  montou-o  novamente,  experimentou  o  gatilho.  Carregou  o
  tambor e a arma estava pronta para funcionar.
    Neri meteu o boné de polícia num saco de papel grosso e vestiu um sobretudo civil por cima
  de seu uniforme. Olhou as horas no seu relógio. Faltavam quinze minutos para que o carro viesse
   281   282   283   284   285   286   287   288   289   290   291