Page 282 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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ir embora. Mas ficou novamente surpreso.
— Está na hora do almoço — disse Michael. — Venha comer comigo e minha família. Meu
pai disse que gostaria de conhecê-lo. Vamos até a casa dele. Minha mãe deve ter algum
pimentão frito, ovos e salsichas. À moda realmente siciliana.
Aquela tarde foi a mais agradável que Albert Neri.teve desde o seu tempo de menino, desde
o tempo anterior à morte dos pais quando tinha apenas 15 anos de idade. Don Corleone estava no
máximo de sua amabilidade e ficou satisfeitíssimo quando descobriu que os pais de Neri tinham
vindo originalmente de uma pequena aldeia situada a poucos quilômetros apenas da própria
aldeia dele. A conversa foi agradável, a comida, deliciosa, e o vinho de excelente qualidade. Neri
teve então a idéia de que estava finalmente entre a sua própria gente. Compreendia que era
apenas um convidado casual, mas sabia que podia encontrar um lugar permanente e ser feliz em
tal mundo.
Michael e o Don acompanharam-no até o seu carro. Don Corleone apertou-lhe a mão e
disse:
— Você é um bom sujeito. Estive ensinando ao meu filho Michael aqui o negócio de azeite,
estou ficando velho, quero me aposentar. E ele vem a mim e diz que quer cuidar de seu pequeno
caso. Eu lhe respondo que trate apenas de aprender o negócio de azeite. Mas Michael não me
deixa em paz. Ele diz, temos aqui um bom sujeito, um siciliano, e estão fazendo uma sacanagem
com ele. Ele continua, não me dá sossego enquanto não começo a me interessar pelo caso.
Estou-lhe contando isso para lhe dizer que ele tinha razão. Agora que o conheci, estou contente
por havermos tirado você daquela complicação. Assim, se pudermos fazer mais alguma coisa
por você, é só pedir. Compreende? Estamos à sua disposição.
(Lembrando-se da bondade do Don, Neri gostaria que o grande homem ainda estivesse vivo
para ver o serviço que seria feito naquele dia.)
Neri levou menos de três dias para se decidir. Compreendia que estava sendo requestado,
mas compreendia mais. Compreendia que a Família Corleone aprovava o seu ato, pelo qual a
sociedade o condenara e o punira. A Família Corleone dava-lhe o devido valor, a sociedade não.
Ele compreendia que seria mais feliz no mundo que os Corleone tinham criado do que no mundo
lá de fora. E compreendia que a Família Corleone era a mais poderosa, dentro dos seus estreitos
limites.
Visitou Michael novamente e pôs as cartas na mesa. Ele não queria trabalhar em Las Vegas,
mas aceitaria um emprego junto à Família em Nova York. Tornou clara a sua lealdade. Michael
ficou emocionado, Neri viu isso. Ficou então combinado. Mas Michael insistiu para que Neri
primeiro tomasse umas férias, lá em Miami no hotel da Família, com todas as despesas pagas e
um mês de salário adiantado, a fim de que tivesse o dinheiro necessário para descansar e
divertir-se tranqüilamente.
Essas férias foram o primeiro gostinho de luxo de que Neri desfrutou. O pessoal do hotel teve
um cuidado todo especial com ele, dizendo:
— Ah, você é amigo de Michael Corleone.
O boato se espalhou. Deram-lhe um dos apartamentos de luxo, não o detestável quarto
pequeno que se impingiria a um parente pobre. O homem que dirigia a boate do hotel arranjou-
lhe algumas garotas bonitas. Quando Neri voltou a Nova York, tinha uma concepção um tanto
diferente da vida em geral.
Foi posto no regime de Clemenza e submetido a provas rigorosas por esse habilíssimo
dirigente de homens. Deviam-se tomar certas precauções. Afinal de contas, ele tinha sido da
polícia. Mas a ferocidade natural de Neri predominou apesar dos escrúpulos que ele pudesse ter
por estar agora do outro lado da cerca. Em menos de um ano, recebeu o batismo de fogo. Nunca
mais poderia voltar a ser o que fora.
Clemenza o punha nas alturas. Neri era um homem extraordinário, o novo Luca Brasi. Seria
melhor do que Luca, gabava-se Clemenza. Afinal de contas, Neri fora descoberta sua.
Fisicamente o homem era uma verdadeira maravilha. Os seus reflexos e coordenação eram tão