Page 287 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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apanhá-lo lá embaixo. Passou os quinze minutos examinando-se no espelho. Não havia dúvida.
Ele parecia um verdadeiro policial.
O carro o aguardava com dois homens de Rocco Lampone na frente. Neri entrou no assento
traseiro. Quando o carro partiu para o centro da cidade, depois que eles deixaram as
proximidades do seu apartamento, Neri tirou o sobretudo e colocou-o no piso do carro. Rasgou o
saco de papel e pôs o boné de oficial da polícia na cabeça.
Na esquina na Rua 55, na Quinta Avenida, o carro parou no meio-fio e Neri saltou. Começou
a descer a pé a avenida. Tinha um sentimento estranho ao ver-se novamente uniformizado,
patrulhando as ruas como tinha feito tantas vezes, O movimento de pedestres era intenso àquela
hora. Foi caminhando até chegar em frente ao Rockefeller Center, no lado oposto a quem vem da
Catedral de Saint Patrick. No seu lado da Quinta Avenida, ele localizou a limusine que procurava.
Estava estacionada, completamente isolada entre uma série enorme de sinais vermelhos
indicando ESTACIONAMENTO PROIBIDO e PARADA PROIBIDA. Neri diminuiu o passo.
Ainda era muito cedo. Parou para escrever alguma coisa em seu caderninho e depois continuou
a andar. Estava à frente da limusine. Bateu no pára-lama com o seu cassetete. O motorista olhou
surpreso para ele. Neri apontou com o cassetete para o sinal de PARADA PROIBIDA e acenou
para o motorista que movimentasse o carro. O motorista virou a cabeça para o outro lado.
Neri desceu para a rua e se postou ao lado da janela aberta do motorista. O sujeito era mal-
encarado, exatamente o tipo que ele gostava de enfrentar. Neri falou de modo deliberadamente
insultuoso:
— Como é, seu espertinho, você vai querer que eu lhe pregue um talão de multa na bunda ou
prefere andar?
O motorista respondeu impassivelmente:
— É melhor você perguntar aos seus superiores. Me dê o talão de multa se isso vai-lhe fazer
sentir-se feliz.
— Vai caindo fora daqui — gritou Neri — ou o arranco desse carro e lhe arrebento a bunda
a pontapés!
O motorista fez aparecer uma nota de dez dólares como que por um passe de mágica,
dobrou-a, formando um pequeno quadrado, com uma das mãos, e tentou enfiá-la na blusa de
Neri. Este voltou para a calçada e chamou o motorista com o dedo. O motorista saiu do carro
— Deixe-me ver os documentos do carro — disse Neri.
Ele esperava poder levar o motorista a contornar o quarteirão, mas isso já não era possível.
Com o canto do olho, Neri viu três homens baixos, fortes, descendo a escada do edifício Plaza e
vindo na direção da rua. Era o próprio Barzini e seus dois guarda-costas a caminho para
encontrar-se com Michael Corleone. Imediatamente, um dos guarda-costas destacou-se do grupo
e veio ver o que é que havia com o carro de Barzini. O homem perguntou ao motorista:
— Que é que há?
— Estou sendo multado, não há problema. Esse sujeito deve ser novo aqui na zona.
Nesse momento, Barzini aproximou-se, acompanhado do outro guarda-costas, e gritou:
— Que diabo há agora?
Neri acabou de escrever no seu caderninho e devolveu os documentos ao motorista. Depois
enfiou o caderninho no bolso traseiro da calça e quando trouxe a mão para a frente tinha o
revólver de calibre 38 na mão.
Ele meteu três balas no peito de Barzini antes que os outros dois homens se recuperassem do
choque para poder defendê-lo. Nessa altura, Neri já saíra correndo por entre a multidão e
dobrara a esquina onde o carro estava esperando por ele. O veículo saiu velozmente pela Quinta
Avenida e virou para o centro da cidade. Perto do Chelsea Park, Neri, que já havia tirado o boné,
vestido o sobretudo e mudado a roupa, transferiu-se para outro carro que o aguardava. Deixara o
revólver e o uniforme de polícia no outro carro. Eles dariam sumiço a essas coisas. Uma hora
depois, estava são e salvo na alameda de Long Beach falando com Michael Corleone.