Page 278 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 278
— Você, seu filho da pula, é uma vergonha para os italianos. Você difama todos nós. Ponha-
se de pé.
Deu um pontapé na anca do rapaz, nem muito fraco, nem muito forte:
— Vá para casa e não fique na rua. Que eu também não o apanhe mais usando essa jaqueta.
Eu o mandarei para o hospital. Agora vá para casa. Você está com sorte por eu não ser seu pai.
Neri nem se incomodou com os outros dois rapazes. Apenas deu-lhes um pontapé nas
nádegas, enxotando-os e dizendo-lhes que não os queria ver mais na rua aquela noite.
Em tais encontros, tudo era feito com tamanha rapidez que não havia tempo para que
juntasse gente ou para que alguém protestasse contra as atitudes do policial. Neri entrava logo no
carro-patrulha e o seu companheiro arrancava imediatamente Ë claro que de vez em quando
apareciam sujeitos valentes que queriam brigar e às vezes até puxavam faca. Coitados deles!
Neri, agindo rapidamente com terrível ferocidade, batia neles impiedosamente jogava-os dentro
do carro-patrulha. Eles recebiam voz de prisão sob a acusação de agressão a uma autoridade
policial. Mas geralmente só iam para a cadeia algum tempo depois, isto é, após saírem do
hospital.
Finalmente, Neri foi transferido para a zona em que se encontrava o edifício das Nações
Unidas, principalmente porque faltou com o devido respeito ao sargento de seu distrito O pessoal
das Nações Unidas, com sua imunidade diplomática, estacionava suas limusines em todas as ruas
sem qualquer obediência aos regulamentos do trânsito. Neri deu queixa no distrito policial e
disseram-lhe para não fazer onda, que não tomasse conhecimento do fato. Mas uma noite
aconteceu que uma rua lateral ficou intransitável devido aos automóveis negligentemente
estacionados. Já passava da meia-noite, por conseguinte Neri tirou sua enorme lanterna do carro-
patrulha e foi rua abaixo reduzindo pára-brisas a estilhaços. Não era fácil, mesmo para
diplomatas de alto posto, ter os pára-brisas consertados rapidamente, tinham de esperar alguns
dias. Choveram protestos no distrito policial exigindo providência contra esse ato de vandalismo.
Depois de uma semana de quebra-quebra de pára-brisas, a verdade sobre o que estava
realmente acontecendo chegou ao conhecimento de uma autoridade superior e Albert Neri foi
transferido para o Harlem.
Num domingo, pouco tempo depois, Neri, acompanhado da esposa, foi visitar a irmã viúva
no Brooklyn. Albert Neri tinha pela irmã a profunda afeição protetora comum a todos os
sicilianos e sempre a visitava pelo menos uma vez em cada dois meses para se assegurar de que
ela estava bem. Ela era muito mais velha do que ele e tinha um filho de 20 anos de idade. O
rapaz, de nome Thomas, sem a autoridade paterna, estava dando aborrecimentos. Tinha-se
metido em algumas pequenas enrascadas, e estava ficando um pouco selvagem. Neri certa vez
usara os seus contatos na organização policial para livrar o rapaz da acusação de furto. Nessa
ocasião, ele conseguira controlar a sua raiva, mas avisou ao sobrinho:
— Tommy, se você fizer sua mãe chorar novamente por sua causa, quem vai ajustar contas
com você sou eu.
Isso, porém, foi dito num tom de tio camarada, não constituindo realmente uma ameaça.
Mas, mesmo sendo Tommy o pior elemento de todos os rapazes daquela zona “braba” do
Brooklyn, ele tinha medo do tio Al.
Por ocasião dessa visita, Tommy chegara em casa muito tarde da noite de sábado e estava
ainda dormindo em seu quarto. A mãe fora acordá-lo, dizendo que se vestisse para fazer a
refeição domingueira em companhia do tio e da tia. A voz do rapaz fez-se ouvir asperamente
através da porta do quarto parcialmente aberta:
— Que se danem, deixem-me dormir!
E a mãe voltou para a cozinha rindo e desculpando-se.
Assim tiveram de fazer a refeição sem ele. Neri perguntou à irmã se Tommy estava
causando-lhe algum aborrecimento, e ela balançou a cabeça.
Neri e a mulher estavam quase para ir embora quando Tommy finalmente se levantou. Ele
mal pronunciou um “olá” e foi para a cozinha. Finalmente gritou de lá para a mãe: