Page 273 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Cuidaria dos seus filhos, da sua família, do seu mundo. Mas os seus filhos cresceriam num mundo
  diferente. Seriam médicos, artistas, cientistas, governadores, presidentes. Qualquer coisa. Faria o
  possível  para  que  eles  se  unissem  à  família  geral  da  humanidade,  mas  ele,  como  um  pai
  poderoso e prudente, com toda a certeza exerceria uma prudente vigilância sobre essa família
  geral.
    Na  manhã  depois  do  enterro,  todos  os  funcionários  de  maior  importância  da  Família
  Corleone se reuniram na alameda. Pouco antes do meio-dia, foram admitidos na casa vazia do
  Don.  Michael  Corleone  os  recebeu  sala  da  biblioteca  estava  quase  totalmente  cheia.
  Encontravam-se  lá  os  dois caporegimes,  Clemenza  e  Tessio;  Rocco  Lampone,  com  seu  ar
  moderado, equilibrado; Carlo Rizzi, muito quieto, conhecendo muito bem o seu lugar; Tom Hagen
  abandonando o seu papel exclusivamente de advogado para se reunir à Família naquele transe;
  Albert Neri procurando ficar fisicamente perto de Michael, acendendo o cigarro do seu novo
  Don,  preparando-lhe  a  bebida,  tudo  para  mostrar  uma  lealdade  inabalável,  apesar  do  recente
  desastre que ocorrera à Família Corleone.
    A morte do Don era uma grande desgraça para a Família. Sem ele, parecia que metade de
  sua força tinha desaparecido e quase todo o poder de negociar contra a aliança Barzini-Tattaglia.
  Todos os presentes na sala sabiam disso e esperavam o que Michael tinha a dizer. Para eles,
  Michael ainda não era o novo Don; ele ainda não fizera por merecer a posição ou o título. Se o
  Padrinho não tivesse morrido, teria assegurado a ascensão do filho como seu sucessor; agora não
  era indubitavelmente certo.
    Michael esperou que Neri servisse as bebidas. Depois falou calmamente:
    — Quero apenas dizer a todos os que estão aqui que compreendo como se sentem. Sei que
  todos vocês respeitavam meu pai, mas agora devem se preocupar com vocês mesmos e com as
  suas famílias. Alguns de vocês estão em dúvida sobre como tudo o que aconteceu vai afetar os
  planos que tracei e as promessas que fiz. Bem, a resposta a isso é: nada. Tudo realmente continua
  como antes.
    Clemenza  balançou  a  sua  grande  cabeça  de  búfalo.  O  seu  cabelo era  grisalho  e  as  suas
  feições, mais profundamente acentuadas em camadas adicionais de gordura, apresentavam um
  aspecto desagradável.
    — Os Barzini e os Tattaglia vão começar agora a nos dar duro mesmo, Mike. Você tem de
  lutar ou fazer acordo com eles.
    Todos na sala perceberam que Clemenza não se dirigira de modo formal a Michael nem
  tampouco usara o título de Don ao falar com ele.
    — Vamos esperar para ver o que acontece — retrucou Michael. — Vamos deixar que eles
  rompam a paz primeiro.
    —  Eles  já  romperam,  Mike  —  acrescentou  Tessio  na  sua  voz  macia.  —  Abriram  duas
  agências  de bookmaker no Brooklyn esta manhã. Eu soube disso por intermédio do capitão da
  polícia que faz a “lista de proteção” no distrito policial. Dentro de um mês, não terei mais nem
  um lugar para pendurar o chapéu em todo o Brooklyn.
    Michael olhou para ele pensativamente.
    — Você já fez algo a respeito?
    Tessio balançou a sua pequena cabeça de furão.
    — Não — respondeu. — Eu não quis criar problemas para você.
    — Ótimo — retrucou Michael. — Agüente firme. E acho que é isso o que quero dizer a todos
  vocês. Agüentem firme. Não reajam a qualquer provocação. Dêem-me algumas semanas para
  acertar as coisas, para ver em que direção o vento vai soprar. Então farei a melhor coisa que
  puder para todos os que estão aqui. Então faremos uma reunião definitiva e tomaremos algumas
  decisões finais.
    Michael não tomou conhecimento da surpresa demonstrada por eles e mandou Albert Neri
  acompanhá-los até a saída. E abruptamente falou:
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