Page 268 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 268
liberdade. Portanto, ele precisa de gente para ajudá-lo no seu pequeno império. Mas todo sujeito
que ele arranja tem de ser comunicado a mim. E noto que todo sujeito que ele põe na folha de
pagamento é um pouco bom demais para essa determinada função, ganha um pouco mais de
dinheiro do que vale a atividade que ele exerce. A propósito, você pegou o homem certo quando
escolheu Lampone. Ele está agindo com toda a perfeição.
Michael fez uma careta.
— Não com tanta perfeição se você chegou a perceber. De qualquer modo, o Don escolheu
Lampone.
— Muito bem — anuiu Tom — então, estou cortado do negócio?
Michael olhou fixamente para ele e, sem vacilar, respondeu-lhe diretamente:
— Tom, você não é um consigliori para o tempo de guerra. As coisas podem tornar-se duras
com esse passo que pretendemos dar e talvez tenhamos de brigar. E quero manter você fora da
linha de fogo também, para qualquer eventualidade.
O rosto de Hagen ficou vermelho. Se Don Corleone lhe tivesse dito a mesma coisa, ele a
aceitaria humildemente Mas de onde diabo tinha saído Mike para fazer aquele julgamento
inesperado?
— Muito bem — respondeu ele — mas acontece que tenho de concordar com Tessio. Acho
que você está procedendo nisso de maneira inteiramente errada. Você está querendo dar esse
passo movido pela fraqueza, não pela força. Isso é sempre mau. Barzini é como um lobo, e se ele
o estraçalhar totalmente, as outras Famílias não virão correndo ajudar os Corleone.
Don Corleone falou finalmente:
— Tom, a decisão não é bem de Michael. Eu o aconselhei nessas questões. Há coisas que
talvez tenham de ser feitas pelas quais não quero, de forma alguma, ser responsabilizado. Isso é
meu desejo, não de Michael. Nunca pensei que você fosse mau consigliori, considerei Santino
um mau Don, que sua alma repouse em paz. Ele tinha um bom coração, mas não era o homem
certo para dirigir a Família quando sofri a minha pequena desgraça. E quem pensaria que Fredo
se tornaria um lacaio de mulheres? Portanto, não se sinta desprestigiado. Michael tem toda a
minha confiança como você também tem. Por motivos que você não pode saber, você não deve
tomar parte no que poderá acontecer. A propósito, eu disse a Michael que o regime secreto de
Lampone não escaparia ao seu olho. Portanto, isso mostra que tenho fé em você.
Michael deu uma gargalhada.
— Sinceramente, eu não acreditava que você descobrisse isso, Tom.
Hagen compreendeu que estava sendo amolecido.
— Talvez eu possa ajudar — disse ele.
Michael balançou a cabeça decididamente.
— Você está fora do negócio, Tom.
Hagen terminou a sua bebida e antes de ir embora fez uma censura branda a Michael.
— Você é quase tão bom quanto seu pai, mas há ainda uma coisa que precisa aprender.
— Que é? — perguntou Michael delicadamente.
— A dizer “não” — respondeu Hagen.
Michael acenou com a cabeça gravemente.
— Você tem razão. Eu me lembrarei disso.
Quando Hagen partiu, Michael disse brincando para o pai:
— Assim, você me ensinou tudo o mais. Diga-me como dizer “não” às pessoas de um modo
que elas gostem.
Don Corleone andou um pouco e foi sentar-se atrás da escrivaninha.
— A gente não pode dizer “não” a pessoas de quem gosta, nem sempre. Este é o segredo. E
então quando a gente diz, esse “não” tem de soar como um “sim”. Ou a gente tem de fazê-las
dizer “não”. Você ainda precisa de muito tempo e muito aborrecimento para aprender isso. Mas