Page 269 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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eu sou um velho antiquado, você é a geração moderna, não preste atenção ao que estou dizendo.
Michael deu uma gargalhada.
— Certo. Você concorda que Tom deve ficar de fora, entretanto, não é verdade?
O Don acenou com a cabeça.
— Ele não pode ser envolvido nisso.
— Acho que é hora de eu lhe revelar — disse Michael calmamente — que o que vou fazer
não é puramente uma vingança por Apollonia e Sonny. E a coisa certa a fazer. Tessio e Tom têm
razão a respeito de Barzini.
Don Corleone acenou com a cabeça.
— A vingança é um prato que sabe melhor quando frio — comentou. — Eu não teria feito
essa paz, se não soubesse que de outro modo você jamais voltaria vivo para casa. Estou surpreso,
entretanto, que Barzini tenha ainda feito uma última tentativa para matar você. Talvez isso tivesse
sido combina do antes da conversação de paz e ele não pudesse mais impedir a tentativa. Você
tem certeza de que eles não estavam atrás de Don Tommasino?
— Era isso o que eles queriam que parecesse — respondeu Michael. — E teria sido perfeito,
mesmo que você nunca tivesse suspeitado. Exceto que eu saí vivo. Vi Fabrizzio sair pelo portão
correndo. E evidentemente eu averigüei tudo desde que voltei.
— Encontraram aquele pastor? — indagou Don Corleone.
— Eu o encontrei — respondeu Michael. — Eu o encontrei há coisa de um ano. Ele tem uma
pequena pizzaria lá em Buffalo. Nome trocado, passaporte e identificação falsos. Ele está
representando muito bem, mas é Fabrizzio, o pastor.
O Don acenou com a cabeça.
— Então não adianta nada esperar mais. Quando você vai começar?
— Assim que Kay tiver o filho — respondeu Michael. — Apenas para a eventualidade de
que algo corra mal. E quero Tom instalado em Las Vegas para que ele não se preocupe com o
caso. Penso que daqui a um ano.
— Você preparou tudo? — perguntou o Don sem olhar para Michael.
— Você não toma parte nisso — respondeu Michael calmamente. — Você não é
responsável. Assumo toda a responsabilidade. Eu recusaria até que você vetasse isso. Se você
tentasse isso agora, eu deixaria a Família e seguiria meu próprio caminho. Você não é
responsável.
O Don permaneceu calado por muito tempo e depois suspirou. Finalmente, falou:
— Assim seja. Talvez por isso estou aposentado, talvez seja por isso que transferi tudo para
você. Já cumpri minha tarefa na vida, não tenho mais coragem. E há certos deveres que o
melhor dos homens não pode cumprir. Este é o caso, no momento.
Durante aquele ano, Kay Adams Corleone deu à luz o seu segundo filho, outro menino. O
parto transcorreu facilmente, sem qualquer complicação, e ela, quando voltou da maternidade,
foi recebida na alameda como uma princesa. Connie Corleone presenteou a criança com um
enxoval de seda feito a mão na Itália, extraordinariamente caro e bonito.
— Carlo achou-o — disse ela a Kay. — Ele percorreu todas as lojas de Nova York para
arranjar algo especial depois que eu não consegui encontrar nada que realmente me agradasse.
Kay agradeceu sorrindo, compreendendo imediatamente que devia contar essa bela história
a Michael. Ela estava a caminho de se tornar siciliana.
Também durante aquele ano, Nino Valenti morreu de hemorragia cerebral. A sua morte foi
noticiada com destaque na imprensa porque o filme que Johnny Fontane tinha feito com ele
estreara algumas semanas antes e estava alcançando um estupendo sucesso, consagrando Nino
como um astro de primeira grandeza. Os jornais mencionavam que Johnny Fontanne estava
providenciando pessoalmente as cerimônias fúnebres, que o enterro seria discreto, só
comparecendo pessoas da família e amigos íntimos. Uma história sensacionalista chegava a