Page 266 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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seus próprios chefes, ter suas próprias Famílias. Evidentemente, não preciso dizer que
manteremos nossa amizade. Eu não desapontaria vocês, pois o respeito de vocês por meu pai não
esqueço um instante sequer. Mas até o término desse tempo, quero que sigam a minha liderança
e não se preocupem. Há negociações em andamento sobre isso que resolverão problemas que
vocês consideram insolúveis. Portanto, peço apenas que sejam um pouco pacientes.
— Se Moe Greene deseja falar com o seu pai, por que não deixá-lo fazer isso? — perguntou
Tessio. — Don Corleone sempre conseguiu convencer qualquer pessoa, nunca houve alguém que
pudesse resistir à sua argumentação.
— Estou aposentado — atalhou Don Corleone. — Michael perderia o respeito de vocês, se eu
interviesse no assunto. Além disso, ele é um homem com quem eu não gostaria de falar.
Tessio lembrou-se das histórias que ouvira sobre Moe Greene, que esbofeteara Freddie
Corleone uma noite no hotel de Las Vegas. Começou a desconfiar de algo. Recostou-se na
cadeira. Moe Greene era um homem morto, pensou ele. A Família Corleone não desejava
convencê-lo.
Carlo Rizzi perguntou:
— A Família Corleone vai deixar totalmente de operar em Nova York?
Michael acenou com a cabeça afirmativamente.
— Venderemos o negócio de azeite. Tudo o que pudermos passaremos para Tessio e
Clemenza. Mas, Carlo, não quero que você se preocupe com o seu emprego. Você foi criado em
Nevada, você conhece o Estado, conhece o povo. Estou contando com você para ser meu braço
direito quando a gente se mudar para lá.
Carlo recostou-se na sua cadeira, com o rosto vermelho de satisfação. A sua hora estava
chegando, ele se empolgava com o aceno do poder.
—Tom Hagen não é mais o consigliori — prosseguiu Michael. — Vai ser nosso advogado
em Las Vegas. Daqui a uns dois meses, ele se mudará para lá, em caráter permanente, com a
família. Exclusivamente como advogado. Ninguém lhe apresentará qualquer outro assunto a
partir de agora, deste instante. Ele é advogado, e só isso. Nada tenho de desabonador contra Tom,
apenas quero a coisa assim. Além disso, se precisar de conselho, alguma vez, quem pode ser
melhor conselheiro do que meu pai?
Todos riram. Mas compreenderam bem a mensagem, apesar da piada. Tom Hagen estava
fora do negócio, não mais exercia qualquer poder. Todos relancearam um olhar para Hagen, a
fim de ver a sua reação, mas o seu rosto se mantinha impassível.
Clemenza perguntou com a sua voz ofegante de homem gordo:
— Então, daqui a um ano estaremos por nossa própria conta, não é isso?
— Talvez até em menos tempo — respondeu Michael amavelmente. — Evidentemente,
vocês podem continuar sempre a fazer parte da Família, cabe a vocês mesmos escolher. Mas a
maior parte de nossa força estará lá no Oeste e talvez vocês prefiram organizar-se por sua
própria conta.
— Nesse caso — atalhou Tessio — penso que devemos ter permissão para arranjar mais
homens para nossos regimes. Esses salafrários dos Barzini continuam a se meter em meu
território. Acho que seria aconselhável dar-lhes uma pequena lição de boas maneiras.
Michael balançou a cabeça.
— Não. Não é bom. Continue quieto. Tudo isso vai ser negociado, tudo vai ser arranjado
antes de irmos embora.
Tessio não se satisfez tão facilmente. Falou com o Don diretamente, arriscando-se a
contrariar a vontade de Michael.
— Perdoe-me, Padrinho, que os nossos anos de amizade me sirvam de desculpa. Mas acho
que você e seu filho estão completamente enganados a respeito do negócio de Nevada. Como
podem vocês esperar ter êxito lá sem a sua força aqui para apoiá-los? As duas coisas andam de
braços dados. E, estando vocês longe daqui, os Barzini e os Tattaglia serão muito fortes para nós.