Page 261 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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sogra ia à igreja toda manhã. Às vezes, ao regressar, a velha senhora dava uma paradinha ali
  para tomar o café da manhã e ver o seu novo neto.
    A  Sra.  Corleone  sempre  perguntava  por  que  Kay  não  pensava  em  se  tornar  católica,
  ignorando o fato de que o filho de Kay já tinha sido batizado como protestante. Assim, Kay sentia
  ser apropriado perguntar à velha senhora se ela ia à igreja todas as manhãs, por ser uma parte
  necessária do credo católico.
    Pensando  que  isso  pudesse  impedir  Kay  de  se  converter  ao  catolicismo,  a  Sra.  Corleone
  respondeu:
    — Oh, não, não, alguns católicos só vão à igreja na Páscoa e no Natal. A pessoa vai quando
  tem vontade de ir.
    Kay deu uma gargalhada e perguntou:
    — Então por que a senhora vai toda manhã?
    De um modo completamente natural, mamãe Corleone respondeu:
    — Eu vou por meu marido — ela apontou para o chão — para que ele não vá para lá. — Fez
  uma pausa e acrescentou: — Faço orações pela alma dele todo dia para que ele vá lá para cima
  — e apontou o céu.
    Ela disse isso com um sorriso meio malicioso, como se estivesse contrariando de alguma
  forma a vontade do marido, ou como se fosse uma coisa perdida. Disse-o quase brincando, à
  maneira horrível de velha italiana. E, como sempre, quando o marido não estava presente, havia
  uma atitude de desrespeito para com o grande Don.
    — Como tem passado o seu marido? — perguntou Kay delicadamente. A Sra. Corleone deu
  de ombros.
    —  Ele  não  é  mais  o  mesmo  homem  desde  que  o  balearam.  Deixa  Michael  fazer  todo  o
  trabalho,  apenas  perde  tempo  com  seu  jardim,  seus  pimentões,  seus  tomates.  Como  se  ainda
  fosse camponês. Mas os homens são sempre assim.
    Mais tarde, naquela manhã, Connie atravessaria a alameda com seus dois filhos para fazer
  uma  visita  a  Kay  e  bater  um  papo.  Kay  gostava  de  Connie,  de  sua  vivacidade,  de  seu  amor
  evidente  pelo  irmão  Michael.  Connie  ensinara  Kay  a  cozinhar  alguns  pratos  italianos,  mas  às
  vezes trazia os seus próprios preparados, mais bem-feitos, para Michael saborear.
    Agora, naquela manhã, como sempre fazia, ela perguntava a Kay o que Michael pensava de
  seu marido, Carlo. Será que Michael realmente gostava de Carlo, como dava a entender? Carlo
  sempre  tivera  um  pouco  de  complicação  com  a  Família,  mas  agora  nos  últimos  anos  ele  se
  corrigira. Estava realmente indo muito bem com o sindicato trabalhista, mas tinha de trabalhar
  arduamente, durante muitas horas. Carlo realmente gostava de Michael, Connie sempre dizia.
  Mas então, todos gostavam de Michael, como gostavam de seu pai. Michael era exatamente igual
  ao  Don  em  tudo.  A  melhor  coisa  mesmo  era  que  Michael  ia  dirigir  o  negócio  de  azeite  da
  Família.
    Kay  observara  antes  que  quando  Connie  falava  a  respeito  do  marido  em  relação  com  a
  Família,  ficava  sempre  ansiosa  por  ouvir  alguma  palavra  de  aprovação  a  Carlo.  Kay  seria
  estúpida se não tivesse notado o interesse quase aterrador que Connie tinha em saber se Michael
  gostava de Carlo ou não. Uma noite ela falou com Michael sobre isso e mencionou o fato de que
  ninguém jamais falava em Sonny Corleone, ninguém nem mesmo se referia a ele, pelo menos
  não na presença dela. Kay tentara uma vez expressar suas condolências ao Don e sua mulher, e
  eles a ouviram com um silêncio quase rude e depois não falaram no assunto. Ela tentara fazer
  Connie falar sobre o irmão mais velho, mas não tivera êxito.
    A  mulher  de  Sonny,  Sandra,  mudara-se  com  os  filhos  para  a  Flórida,  onde  os  seus  pais
  moravam agora. Fizeram-se certos arranjos financeiros para que ela e os filhos ficassem bem,
  mas Sonny não deixara imóveis.
    Michael relutantemente explicou o que acontecera na noite em que Sonny foi assassinado.
  Que  Carlo  batera  na  mulher  e  que  Connie  telefonara  para  a  alameda,  Sonny  atendera  ao
  telefonema e correra para a casa dela numa fúria cega. Assim, naturalmente, Connie e Carlo
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