Page 264 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Na tarde do regresso de Michael de Las Vegas, Rocco Lampone levou a limusine para a
alameda, a fim de apanhar Kay para que ela pudesse encontrar o marido no aeroporto. Ela
sempre ia ao encontro do marido quando ele voltava de alguma viagem, principalmente porque
se sentia solitária sem ele, vivendo como vivia na alameda fortificada.
Ela o viu sair do avião com Tom Hagen e o novo homem que trabalhava para ele, Albert
Neri. Kay não simpatizava muito com Neri, ele lembrava-lhe Luca Brasi em sua tranqüila
ferocidade. Viu Néri saltar atrás de Michael e depois afastar-se para o lado, observando seu
rápido olhar penetrante, enquanto seus olhos esquadrinhavam todas as pessoas nas proximidades.
Foi Neri quem primeiro avistou Kay e tocou no ombro de Michael para fazê-lo olhar na direção
apropriada.
Kay correu para os braços do marido e ele beijou-a rapidamente. Michael, Tom Hagen e
Kay entraram na limusine e Albert Neri sumiu, Kay não percebeu que Neri entrara noutro carro
com mais dois homens, seguindo-os até a alameda de Long Beach.
Kay nunca perguntava a Michael como se saía nos negócios. Até essas perguntas eram
compreendidas como esquisitas, não que ele não lhe desse uma resposta igualmente delicada,
mas isso lembraria a ambos o território proibido no qual o casamento deles jamais podia permitir
que ela entrasse. Kay não se importava mais. Porém, quando Michael lhe disse que teria de
passar a noite com o pai, a fim de relatar-lhe os resultados da viagem a Las Vegas, ela não pôde
deixar de fazer uma cara de decepção.
— Lamento muito — disse Michael. — Amanhã à noite iremos a Nova York assistir a um
espetáculo e jantar. Está bem?
Ele bateu-lhe no ventre, ela já estava grávida há quase sete meses.
— Depois que a criança nascer — continuou ele — você ficará presa nova mente. Diabo,
você é mais italiana do que ianque. Dois filhos em dois anos.
— E você é mais ianque do que italiano — retrucou Kay mordazmente. — É sua primeira
noite em casa e você vai passá-la tratando de negócios.
Mas ela sorriu para ele quando disse aquilo.
— Você não vai chegar tarde em casa, vai? — perguntou ela.
— Antes de meia-noite — respondeu Michael. — Não me espere acordada se você se sentir
cansada.
— Esperarei acordada — retorquiu ela.
Na reunião daquela noite, na biblioteca da sala do canto da casa de Don Corleone, estavam
presentes o próprio Don, Michael, Tom Hagen, Casio Rizzi e os dois caporegimes, Clemenza e
Tessio.
A atmosfera da reunião não era, de forma alguma, tão cordial como nos velhos tempos.
Desde que Don Corleone anunciara sua semi-aposentaria e a elevação de Michael à direção do
negócio da Família, havia certa tensão. A sucessão no controle de um empreendimento como a
Família não era, de forma alguma, hereditária. Em qualquer outra Família, caporegimes
poderosos, tais como Clemenza e Tessio, teriam ascendido à posição do Don. Ou pelo menos
teriam tido permissão para separar-se e formar a sua própria Família.
Então, também, desde que Don Corleone fizera a paz com as cinco Famílias, a força da
Família Corleone declinara. A Família Barzini era agora indiscutivelmente a mais poderosa na
área de Nova York; aliada como estava aos Tattaglia, ela agora mantinha a posição que a Família
Corleone mantivera outrora. Também ela reduzia ardilosa e gradualmente o poder da Família
Corleone, invadindo as suas áreas de jogo, experimentando as reações dos Corleone e, achando-
os fracos, estabelecendo os seus próprios bookmakers.
Os Barzini e Tattaglia estavam exultantes com a aposentadoria de Don Corleone. Michael,
por mais poderoso que pudesse ser, jamais esperaria ser igual a Don Corleone em astúcia e
influência, pelo menos antes de decorrida uma década. A Família Corleone estava
definitivamente em decadência.