Page 263 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Michael olhou para a irmã de maneira distraída. Parecia que não tinha ouvido coisa alguma.
  Ele não respondeu.
    Connie veio postar-se ao lado do pai.
    — Faça-o consertar a cara — pediu ela ao Don,
    Depois Connie pousou as duas mãos carinhosamente nos ombros do pai e friccionou-lhe o
  pescoço. Ela era a única pessoa que podia tomar tal liberdade com o Don. O amor dela pelo pai
  era comovente. Era sincero, como o de uma menina pequena. O Don bateu numa das mãos dela
  e disse:
    —  Todos  nós  estamos  aqui  morrendo  de  fome.  Ponha  o  espaguete  em  cima  da  mesa  e
  depois tagarele.
    Connie virou-se para o marido e pediu:
    — Carlo, diga a Mike para consertar a cara. Talvez ele ouça você.
    A sua voz insinuava que Michael e Carlo Rizzi tinham alguma relação amistosa acima de
  quaisquer outras pessoas.
    Carlo, bastante queimado do sol, o cabelo louro apuradamente cortado e penteado, tomou um
  gole do seu copo de vinho caseiro e disse:
    — Ninguém pode dizer a Mike o que ele deve fazer.
    Carlo se tornara um homem diferente desde que se mudara para a alameda. Conhecia seu
  lugar na Família e se mantinha nele.
    Havia  alguma  coisa  que  Kay  não  entendia  em  tudo  isso,  alguma  coisa  que  não  se  podia
  realmente perceber. Como mulher, ela notava que Connie estava deliberadamente agradando o
  pai,  embora  fizesse  isso  decentemente  e  com  sinceridade.  Contudo,  não  era  uma  coisa
  espontânea.  A  resposta  de  Carlo  fora  uma  saída  masculina  delicada  e  sem  compromisso.
  Michael não tomou absolutamente conhecimento de nada.
    Kay  não  se  importava  com  a  desfiguração  do  marido,  mas  se  preocupava  com  a  sua
  complicação do nariz que decorria disso. A correção cirúrgica resolveria o problema. Por esse
  motivo, ela queria que Michael se submetesse à necessária operação. Mas compreendia que, de
  modo curioso, ele desejava essa desfiguração. Ela tinha certeza de que o Don compreendia isso
  também,
    Mas,  depois  que  Kay  deu  à  luz  o  primeiro  filho,  ficou  surpresa  quando  Michael  lhe
  perguntou:
    — Você quer que eu endireite a cara?
    Kay acenou com a cabeça.
    —  Você  sabe  como  são  as  crianças,  o  seu  filho  se  sentirá  mal  com  a  sua  cara  quando
  crescer o bastante para compreender que isso não é normal. Apenas não quero que nosso filho
  veja isso. Francamente, Michael, não ligo para isso.
    — Está bem — retrucou ele sorrindo. — Eu a consertarei.
    Michael  esperou  que  ela  saísse  da  maternidade  e  fosse  para  casa,  e  então  tomou  as
  necessárias  providências.  A  operação  teve  êxito.  O  amassamento  da  face  era  agora  quase
  imperceptível.
    Todos na Família ficaram satisfeitos, mas Connie mais do que qualquer outra pessoa. Ela
  visitava Michael todo dia no hospital, arrastando Carlo consigo. Quando Michael voltou para casa,
  ela deu-lhe um grande abraço, beijou-o, olhou para ele com admiração e disse:
    — Agora você é meu irmão bonito novamente.
    Somente o Don não se impressionou, dando de ombros, e observando:
    — Qual é a diferença?
    Mas  Kay  ficou  grata.  Ela  sabia  que  Michael  fizera  isso  contra  todas  as  suas  inclinações.
  Fizera porque ela lhe pedira, e porque ela sabia que era a única pessoa no mundo que podia fazê-
  lo realizar uma coisa contra a sua própria natureza.
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