Page 265 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Ela havia, evidentemente, sofrido sérios infortúnios. Freddie provara não ser nada mais do
  que um hoteleiro e conquistador de mulheres, sendo que a expressão “conquistador de mulheres”
  era intraduzível, mas sugeria uma criança voraz sempre agarrada ao seio da mãe — em suma,
  um  homem  fraco.  A  morte  de  Sonny  fora  também  um  desastre.  Ele  era  um  homem  a  ser
  temido, não a ser tomado levianamente. De fato, cometera um erro ao mandar seu irmão mais
  moço, Michael, matar o turco e o capitão da polícia. Embora fosse necessário num sentido tático,
  numa  estratégia  a  longo  prazo  isso  provou  ser  um  erro  calamitoso.  Forçara  finalmente  Don
  Corleone  a  se  levantar  de  sua  cama  de  enfermo.  Privara  Michael  de  dois  anos  de  valiosa
  experiência  e  rigoroso  treinamento  sob  a  orientação  do  pai.  E  evidentemente  escolher  um
  irlandês para consigliori fora a única tolice que Don Corleone perpetrou em toda a sua carreira.
  Nenhum irlandês podia igualar um siciliano em astúcia. Esta era a opinião de todas as Famílias, e
  elas naturalmente mostravam-se mais respeitosas para com a aliança Barzini-Tattaglia do que
  para com os Corleone. A opinião delas a respeito de Michael era que ele não era igual a Sonny
  em força, embora certamente fosse mais inteligente, porém não mais inteligente do que o pai.
  Um sucessor medíocre e um homem que não devia ser muito temido.
    Além  disso,  embora  Don  Corleone  fosse  geralmente  admirado  por  sua  habilidade
  diplomática em fazer a paz, o fato de não ter ele vingado a morte de Sonny contribuiu para que a
  Família  perdesse  grande  parte  de  seu  prestígio.  Reconhecia-se  que  tal  habilidade  diplomática
  proviera unicamente de fraqueza.
    Tudo  isso  era  sabido  pelos  homens  que  se  achavam  reunidos  naquela  sala,  e  talvez  até
  acreditado por alguns. Carlo Rizzo gostava de Michael, mas não o temia como temera Sonny.
  Clemenza também, embora concedesse a Michael um crédito de bravura por ter assassinado o
  turco e o capitão da polícia, não podia deixar de achar que Michael era muito mole para ser Don.
  Clemenza esperara ter permissão  para formar sua própria Família, para ter seu próprio império,
  separado dos Corleone. Mas o Don respondera que não concedia licença para isso, e Clemenza
  respeitava  muito  o  Don  e  não  ousava  desobedecer  tal  decisão.  A  menos  que  a  situação  se
  tornasse de todo intolerável.
    Tessio  tinha  uma  opinião  melhor  de  Michael.  Percebia  algo  mais  no  jovem:  uma  força
  habilmente mantida oculta, um homem que procurava  manter  ciosamente  resguardada  a  sua
  verdadeira  força,  seguindo  o  preceito  de  Don  Corleone  de  que  um  amigo  deve  sempre
  subestimar as nossas virtudes e um inimigo sobrestimar os nossos defeitos.
    O próprio Don Corleone e Tom Hagen evidentemente confiavam bastante em Michael. O
  Don  jamais  teria  se  aposentado,  se  não  acreditasse  inteiramente  na  habilidade  do  filho  em
  recuperar o prestígio da Família. Hagen fora o professor de Michael durante os últimos dois anos
  e  estava  espantado  com  a  facilidade  com  que  Michael  apreendera  toda  a  complexidade  do
  negócio da Família. Ele era verdadeiramente filho do pai.
    Clemenza  e  Tessio  estavam  aborrecidos  com  Michael  porque  ele  reduzira  a  força  dos
  regimes deles e nunca reconstituíra o regime de Sonny. A Família Corleone, com efeito, tinha
  agora  apenas  duas  divisões  de  combate  com  menos  pessoal  do  que  antes.  Clemenza  e  Tessio
  consideravam  isso  um  suicídio,  especialmente  quando  os  Barzini  e  Tattaglia  invadiam  vários
  setores  do  império  dos  Corleone.  Assim  esperavam  agora  que  tais  erros  fossem  corrigidos
  naquela reunião extraordinária convocada pelo Don.
    Michael começou a contar-lhes a viagem a Las Vegas e a recusa de Moe Greene à proposta
  para vender a sua parte.
    — Mas lhe faremos uma oferta que ele não poderá recusar — acrescentou ele. — Vocês já
  sabem do projeto da Família Corleone para transferir as suas operações para o Oeste. Teremos
  quatro dos hotéis-cassinos na Faixa. Mas não podemos realizá-lo agora. Precisamos de tempo
  para acertar as coisas.
    Dirigindo-se diretamente a Clemenza, falou:
    — Pete, você e Tessio, quero que fiquem a meu lado durante um ano sem perguntas e sem
  reservas. No fim desse ano, vocês dois podem separar-se da Família Corleone e tornarem-se
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