Page 257 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Nino sempre foi um sujeito verdadeiramente bom. Eu nunca soube que ele tivesse feito
alguma coisa repugnante, isto é, alguma coisa para prejudicar alguém. Ele nunca ligou para
nada. A não ser para a bebida.
— É verdade — confirmou Johnny. — O dinheiro está rolando, ele poderia arranjar um
bocado de trabalho, cantando ou representando nos filmes. Pode conseguir agora cinqüenta mil
dólares por filme, e ele rejeita isso. Não dá a mínima importância ao fato de ser famoso.
Durante todos os anos em que temos sido companheiros, nunca soube que ele tivesse feito
alguma coisa condenável. E o filho da puta está bebendo para morrer!
Jules estava a ponto de dizer algo, quando bateram na porta do apartamento. Ficou surpreso
quando o homem sentado na poltrona, mais próximo da porta, não atendeu, mas continuou a ler o
seu jornal. Hagen é que foi abri-la. E quase foi jogado para o lado quando Moe Greene entrou a
passos largos na sala seguido de dois guarda-costas.
Moe Greene era um bandido bonitão que se tomara famoso como pistoleiro do sindicato do
crime no Brooklyn. Entrara no ramo do jogo e fora para o Oeste em busca de fortuna; tinha sido
uma das primeiras pessoas a ver as possibilidades de Las Vegas e construíra um dos primeiros
cassinos da Faixa. Ainda tinha acessos de fúria homicida e era temido por todo mundo do hotel,
não se excluindo Freddie, Lucy e Jules Segal. Sempre ficavam longe dele, quando era possível.
O seu rosto bem talhado estava horrendo agora. Ele disse para Michael Corleone:
— Estive esperando aí para falar com você, Mike. Tenho um monte de coisas para fazer
amanhã, por isso pensei que pudesse conversar com você esta noite. Que tal?
Michael Corleone olhou para ele com o que parecia ser um espanto amável.
— Está bem — respondeu.
Depois fez um sinal na direção de Hagen e disse:
— Sirva uma bebida ao Sr. Greene, Tom.
Jules notou que o homem chamado Albert Neri estudava Moe Greene atentamente, não
dando a mínima atenção aos dois capangas postados na por ta. Ele sabia que não havia
possibilidade de qualquer violência na cidade de Las Vegas. Isso era rigorosamente proibido por
ser fatal para o projeto inteiro de transformar Las Vegas no refúgio legal dos jogadores
americanos.
Moe Greene disse para os seus guarda-costas:
—Distribua algumas fichas com todas essas pessoas para que possam jogar no cassino.
Evidentemente, ele se referia a Jules, Lucy, Johnny Fontane e o guarda-costas de Michael,
Albert Neri.
Michael acenou com a cabeça concordando:
— É uma boa idéia.
Só então foi que Neri se levantou de sua poltrona e se preparou para sair junto com os outros.
Depois das habituais saudações de despedida, ficaram na sala Freddie, Tom Hagen, Moe
Greene e Michael Corleone.
Greene pôs o seu copo de bebida em cima da mesa e falou com fúria quase descontrolada:
— Que conversa é essa que ouvi que a Família Corleone vai comprar o que é meu? Posso
comprar o que é de vocês. Vocês não compram o que é meu.
Michael respondeu sensatamente:
— O seu cassino vem perdendo dinheiro contra todas as probabilidades. Há alguma coisa
errada na maneira pela qual você o dirige. Talvez possamos fazer melhor.
Greene deu uma gargalhada desagradável.
— Seus malditos carcamanos, eu faço um favor acolhendo Freddie quando vocês estão
numa situação difícil e agora vocês querem me expulsar daqui. Isso é o que vocês pensam! Não
vou ser expulso por ninguém e tenho amigos que vão me apoiar.
Michael continuou a argumentar com tranqüila sensatez:
— Você acolheu Freddie porque a Família Corleone lhe deu uma soma enorme de dinheiro