Page 170 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 170
É preciso conhecer de perto essas comunidades locais Assim, optamos pela realização de uma série de
para não corrermos o risco de transformá-las em “locais” entrevistas com membros dos grupos identificados no
(Meskell, 2005); quer dizer, uma categoria homogênea local do projeto.
em oposição a nós arqueólogos. Há idiossincrasias
O cruzamento dos resultados das reuniões com as
no interior dessas comunidades que devem ser
comunidades locais e das entrevistas teve como
consideradas, ao se propor projetos que lidam
objetivo contribuir para o desenvolvimento do projeto
com aspectos culturais, sociais e políticos. É preciso
educativo e para a proposição de medidas de gestão
considerar “as vozes de todos os atores do cenário
do patrimônio arqueológico local. As reflexões geradas
etnográfico” (Cardoso de Oliveira,1998, p. 30).
pelas entrevistas ajudaram a compreender as complexas
Nesse sentido, as atividades foram orientadas a partir relações entre os grupos impactados pelo projeto e o
de reuniões com líderes comunitários, moradores, patrimônio arqueológico. O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
comunidade escolar e representantes de órgãos
públicos locais. Esperava-se nesses encontros conhecer 1
as demandas locais e, na medida do possível, atendê-las O Pelourinho do meu tempo
durante o projeto. Em artigo anterior (Bezerra, 2009), tratei da percepção
do Centro Histórico de Salvador (daqui em diante
A convivência com as comunidades locais é essencial
referido como CHS) e do patrimônio arqueológico
para o sucesso desses projetos. Ouvir os moradores,
pesquisado entre os moradores antigos. Durante as
suas histórias, suas necessidades confere às ações
entrevistas, ou conversas informais, as lembranças
implantadas um caráter de ação social
mais efetivo, cujos resultados vão 1 O Pelourinho é uma parte do Centro Histórico
ao encontro dos anseios dos de Salvador, mas os moradores se referem a ele,
especialmente, ao tratar do impacto do turismo, da
grupos contemplados.
violência e das obras de restauro.
Pratos em
porcelana.
171
Nelson Kon
Programa monumenta – IPhan