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O PROJETO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
sobre o “Centro de suas
Histórico [ou lembranças
Pelourinho] antigamente” e por sua situação
apareciam, ainda que não de vulnerabilidade.
fossem indagadas. O encontro ocorreu no
Tal como disse Sarlo “a lembrança, assim como interior de uma das casas escavadas.
o cheiro, acomete até mesmo quando não é Foi selecionado um grupo de moradores antigos,
convocada” (2007, p. 10). No CHS, com o crescimento especialmente os familiares dos funcionários das
da cidade, o ritmo da mudança é intenso e o espaço empreiteiras que integram a equipe de Arqueologia.
é apropriado por distintos segmentos, provocando Entende-se que essa aproximação pode contribuir para
em muitos casos a desagregação da memória, cuja o fortalecimento da autoestima das famílias, cujos filhos
causa, segundo Bosi (1999, p. 443), “é o predomínio das trabalham no projeto de restauração.
relações de dinheiro sobre outros vínculos sociais”. Esse
Os participantes vivem no CHS há cerca de 40
desenraizamento, que é físico e simbólico, se expressa
anos e são, portanto, testemunhas das inúmeras
nas entrevistas com o grupo de velhos do CHS. Em suas
transformações na paisagem. Com todos reunidos,
falas, ao tratarem do “Centro Histórico [ou Pelourinho]
deu-se início à caminhada até a casa selecionada. Ao
antigamente”, eles pouco se referem ao casario em
longo do trajeto, os participantes foram narrando as
processo de restauração (Bezerra, 2009). As lembranças
suas lembranças. A tônica dos relatos girou em torno
de todos dizem respeito ao domínio afetivo, a um
da parte de suas vidas que se desenrolou nas ruas:
tempo “passado que se faz presente”(Sarlo, 2007) e cujo
festas, música, distribuição de comidas, conversas nas
marcador que primeiro se impõe é a ausência/presença
portas das casas. O contraponto com a situação de
da violência, que está impressa em suas memórias.
degradação e violência da área, nos dias de hoje, parece
Nesse sentido, procuramos ter um momento com acentuar ainda mais a busca por essas reminiscências.
172 esses antigos moradores que permitisse a instauração A transformação física da paisagem, ou seja, a questão
de uma poética perdida no processo de espoliação que envolve diretamente o aspecto arquitetônico
ArqueologiA no Pelourinho