Page 176 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 176
Contudo, há vozes discordantes. E a resistência e o engenharia contratadas pelo projeto de restauração:
desinteresse de segmentos desse público escolar “Tem de perguntar você sabe o que você tá pisando? O
em relação ao projeto de Educação Patrimonial e que tem aí embaixo?”. Segundo ele, a maior parte dos
de Arqueologia ficaram evidentes. Não obstante as funcionários dessas construtoras não tem conhecimento
tentativas frustradas de estabelecer contatos e marcar algum sobre o patrimônio no qual trabalham. A
reuniões com alguns representantes da comunidade percepção desses funcionários sobre os colegas que
escolar, entendemos que reduzir a situação ao nível atuam diretamente com os arqueólogos foi objeto de
acusatório, em que o professor aparece como o comentário de vários entrevistados.
responsável pela negação à introdução de novas
ideias, é atitude simplista e redutora das questões que Os projetos de Educação Patrimonial no âmbito da
envolvem a identidade da escola como comunidade e Arqueologia têm se voltado especialmente para o
dos professores como indivíduos desse grupo. público escolar. Aos poucos esse panorama está
mudando, mas ainda há um grupo que tem sido pouco
Fischmann (2002, p. 99) chama a atenção para o fato de contemplado por essas ações: os auxiliares de campo,
que se espera que professores e diretores das escolas em geral pessoas da própria comunidade, contratadas
“tenham as suas ‘fronteiras’ permanentemente abertas”. para trabalhar com as equipes de Arqueologia durante os
Segundo ela, isso pode explicar o porquê de a “escola trabalhos de campo. Um dos exemplos dessa mudança Ilustração
[ter] uma força inegavelmente centrífuga – afinal quem é o trabalho desenvolvido por Fernandes (2007) em de Adriana
suporta viver como se não fosse um ser em si?”. Isso implica Guararema, São Paulo, cujo projeto de Arqueologia de Mendonça
o desenvolvimento de programas de longa duração, com Contrato incluiu ações especialmente dirigidas para para projeto
de Educação
base na pesquisa etnográfica, para entender as relações esse grupo. Segundo Fernandes Patrimonial.
de poder cristalizadas no cotidiano escolar. As reflexões (op.cit.), além de aproximar
acadêmicas de uma pesquisa dessa natureza podem ser
pesquisadores e comunidades
aplicadas na solução do problema de distanciamento das
locais, o projeto estimulou
questões patrimoniais locais da sala de aula. Do contrário,
vocações na comunidade.
tratamos de memória, patrimônio, identidade, pertença,
mas esquecemos que a escola também é produtora de As relações entre arqueólogos e
cultura (Popkewitz, 1992). os auxiliares de campo sofreram
mudanças ao longo da história
da Arqueologia no Brasil. Muito
De olho no chão
embora não haja pesquisas
O título acima, dado a uma atividade que iremos direcionadas para essas reflexões,
comentar, é inspirado na fala de um dos jovens moradores é possível a partir de nossas
que trabalhou com a equipe de Arqueologia durante as próprias experiências perceber as 177
escavações, ao se referir aos colegas das empresas de nuances que caracterizavam essas
Programa monumenta – IPhan