Page 16 - Cinema Português
P. 16

Primeiras décadas do Cinema em Portugal


                     O cinema, em Portugal, tornara-se uma espécie de actividade amadora ou artesanal. Cada filme é uma
               aventura. Mas 1930, parece trazer ânimo a muita gente para correr a sua aventura. João de Almeida e Sá
               roda um belo documentário com pretensões vanguardistas: “Alfama, Gente do Mar”. António Lopes Ribeiro faz
               um pequeno filme coreográfico:  “Bailando ao Sol” (que foi um fracasso). Aníbal Contreiras realiza “Vida de Um
               Soldado”, a que chama «documentário reconstituído» (outra desilusão). António Leitão apresenta uma Castelã
               das Berlengas que mal chega ao público de tão má que é. Chianca de Garcia faz “Ver e Amar” em jeito de
               filme amador. E Maurice  Mariaud, em  colaboração com Eduardo Malta, filma  “Nua”, com a  jovem Saur
               Benafid, que, à falta de melhor, tinha  um  corpo bonito. A  branda censura  da época ainda permitiu  que se
               mostrasse desnudado. Tudo não passa de um rosário de frustrações.

                     O sonoro  está  prestes a bater-nos  à  porta, o que tornará essas  aventuras ainda mais difíceis  e
               contingentes. E o público desinteressa-se completamente por uma “Portuguesa de Nápoles e uns Campinos”
               com Maria Lalande que são, entre nós, o triste estertor do cinema mudo. É por essa altura que se faz uma
               experiência inédita: um filme de animação: “Lenda de Miragaia”, em silhuetas animadas, devido a Raul Faria
               da Fonseca e António da Cunha. Filme, aliás, de que ninguém se lembra.

                     Entretanto  -  sem que se desse muito  por  isso  -  tinha  surgido Manuel de Oliveira: um jovem
               desconhecido  nos  meios  cinematográficos  (já  com  tendência  a  centralizarem-se  em Lisboa) que  tinha
               aparecido lá para as bandas do Porto.

                     Em 1930  as atenções estavam todas voltadas para  Leitão  de Barros. o  seu filme  "Maria do  Mar",
               situando-se logo após um período de decadência da produção nacional, tinha vindo colocar-se dignamente na
               primeira fila de toda a cinematografia portuguesa e apresentava-se como uma procura de estilo.










































                     Homem de múltiplas facetas, Leitão de Barros dispersa o seu entusiasmo, os seus interesses, as suas
               capacidades e a sua constante inquietação por diferentes actividades: «Pinta, ensina, pronuncia conferências,
               escreve crónicas e artigos que têm a marca desse  talento singular que  lhe atribuiu  no  berço uma  ronda
               ingénua de fadas protectoras. Comenta com bom  humor no artigo de  fundo,  palpita na reportagem, sorri
               trocista nas entrelinhas do «éco»  jornalístico.»   Faz cinema  -  com dois ou três momentos fulgurantes  -  e
               organiza  desfiles  e  festas  históricas  em  Lisboa,  com  o  mesmo  jeito  com  que  movimenta  centenas  de
               figurantes no  écran.  Talvez esta dispersão,  estes vários  e  desiguais talentos, tenham, afinal,  pesado

                                                                10
   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21