Page 43 - Teatros de Lisboa
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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras


                     «A 9 de setembro de 1862 jantava o conde de Farrobo descançadamente na sua esplendida
               propriedade campesina quando um dos creados lhe apresenta n'uma salva de prata um telegramma, e diz:
               - Acabam de entregar isto para V. Ex.ª
               Joaquim Pedro pega no papel, abre-o, lê, dcbra-o com a máxima serenidade, mette-o na algibeira e prosegue
               na refeição sem que a physionomia tranquilla e attrahente revelasse qualquer commoção. Ao terminar o jantar,
               depois de tomar o café e de ter accendido o charuto, com o ar mais natural do mundo, virou-se para a esposa
               e participou-lhe:
               - Ardeu o theatro das Laranjeiras.
               - Ardeu o theatro das Laranjeiras ? ! - repetiu D. Marianna
               Lodi não podendo acreditar na veracidade de tão infausta noticia.
               - Os operários que andavam alli trabalhando, por qualquer descuido, ponta de cigarro ou lume accêso para
               necessidade inadiável pegaram fogo. . . (1)
               (1) Originou o incêndio o descuido de uno operário que soldava uma clarabóia.

               - Não se conseguiu salvar nada?
               - Nada. Perdeu-se tudo, o scenario e o guarda-roupa.
               - Tão importante o primeiro, tão rico o segundo !...
               - Tudo se ha de recompor.











































                     De  regresso  a  Lisboa,  o  conde  ordenou  que  começassem  os  trabalhos  de  reparação.  As  festas
               continuavam, no entanto, como em plena prosperidade.As offerecidas a 8 e 9 de agosto eccoaram por todo o
               reino com a mesma retumbante repercussão de pródiga magnificência. Na quinta hospedaram-se mais de
               cem pessoas, incluindo vinte senhoras. Durante esses dois dias nenhum soberano da Europa receberia com
               mais bizarra dissipação. Em ambos se correram veados na tapada attinente á soberba vivenda.» in: “Estroinas
               e Estoinices - Ruina e Morte do Conde de Farrobo” de Eduardo de Noronha (1922).


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