Page 44 - Teatros de Lisboa
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Teatro de Thalia ou Teatro das Laranjeiras









































                                                         Palácio das Laranjeiras

                     «Foi na quinta das Laranjeiras que se fez, em 7 d’abril de 1867, a experiencia da nova espingarda de
               precisão apresentada por mr. Benet. Congregaram-se varias damas e cavalheiros. Á noite passaram a uma
               das  salas,  elegante  e fina  como uma moderna  boite  a  bonbons  de  Pihan  ou  de  Boissier,  dançaram
               contradanças, fizeram charadas figuradas, jogaram o whist. Foi a derradeira festa, foi o canto do cysne. Gomo
               na Escriptura - tudo estava consummado.
                     As Laranjeiras fecharam, cerrou-se o templo das artes. E o seu novo proprietário (Jose Pereira Soares)
               mandou  arrancar o lemma que ornava o  portão de ferro: «Olia Tuta.,». Onde  gorgeava o  idyllio, suspirou
               depois a elegia. As musas fugiram espavoridas, soffraldando as túnicas. E se alguma ainda vagueia perdida
               nos recessos umbrosos das Laranjeiras, é, decerto, a musa craintive de Millevoye. E o homem que vivera, até
               certo tempo, n’um mundo de crystal e oiro banhado de rosea luz, mergulhava por fim na caligem da morte,
               levando comsigo os últimos echos da velha elegancia lisbonense. O conde de Farrobo morria ás 6 e meia da
               tarde de 24 de Setembro de 1869, exactamente no dia, e poucas horas depois, d’aquelle em que, havia 36
               annos se finara em Queluz o seu amigo, o duque de Bragança ao qual abrira a bolsa para manter as tropas
               liberaes. E morria na sala Chineza do seu palacio da rua do Alecrim, n’essa mesma sala em que recebera e
               banqueteara os ministros do rei-soldado. Quem dispendêra dinheiro, com uma largueza epica, e vivera uma
               vida de poema, nem sequer acabava na dourada mediania tão querida do poeta. »

                     Quanto ao “Palácio das Laranjeiras”, no último quartel do século XIX o palácio, cujo brilho iluminara a
               época e deslumbrara os contemporâneos, foi a  leilão. A morte poupou, no entanto  ao Conde de Farrobo
               aquela afronta. Adquiriu-a então, em 1874, um fidalgo espanhol, duque de Abrantes e Liñares, que o mandou
               novamente restaurar. Mas a 11 de Abril de 1877 foi comprado pelo comendador José Pereira Soares, que
               adquiriu também as Quintas contíguas das Águas Boas e dos Barbacenas.

                     Em 1903, foi a vez  do Conde de Burnay comprar o  conjunto das quintas e do palácio cedendo, em
               1904, os jardins da primitiva “Quinta das Laranjeiras e Águas Boas” ao “Jardim Zoológico e d’Acclimação de
               Lisboa” - inaugurado em 28 de Maio de 1905 - que, até então, ocupava um local no “Parque da Palhavã”. Os
               restantes espaços ficaram na posse da sua família até 1940, ano em que, para efeito de partilhas se procedeu

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