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Teatro da Trindade


               não faz é impingir a ninguem gato por lebre, permita-me os termos. Quando houver de ser gato, descanse que
               elle terá o cuidado e a honradez de o fazer annunciar.»

                     O projecto do  "Theatro da Trindade"  foi  da  autoria  do arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto, que
               concebeu o teatro mais cómodo, elegante e tecnicamente avançado da capital no seu tempo. De assinalar o
               belo frontão da sala,  da  autoria  de  Leopoldo de Almeida, colocado nos anos 30  do século XX e os  12
               medalhões do tecto, representando dramaturgos, segundo projecto de José Procópio, discípulo dos grandes
               cenógrafos Rambois e Cinatti.

                     Quanto ao seu interior, a revista “Archivo Pittoresco” nº 37 de 1867 descrevia-o do seguinte modo:
               «É dividida a platéa em tres partes. A 1ª, mais chegada ao palco, compõe-se de 76 cadeiras de braços, feitas
               de mogno; 500 réis é o seu preço para cada noite de espectaculo. A 2ª, consta de bancos de mogno com
               costas, e assentos de palhinha, em que ha 176 logares ao preço de 400 réis; esta é a chamada superior. A 3ª,
               que é a geral, tem 200 logares, em bancos da mesma madeira, e sendo o preço de 200 réis.
               Tem a sala de espectaculos frisas, uma galeria ou balcão por baixo da ordem nobre com 80 cadeiras eguaes
               ás que estão na platéa, e cujo preço é de 600 réis; 22 camarotes na ordem nobre, além de 2 da familia real, ao
               quaes corresponde interiormente uma sala, quarto de toucador, camarim e cópa; 24 camarotes na 2ª ordem;
               14  camarotes  na  3ª  ordem,  7  de  cada  lado  de  uma  galeria  denominada  paraiso,  com  logar  para  200
               espectadores, que pagarão 100 réis cada um.
               (...) Consta-nos que o custo deste edifício, por effeito de uma severa economia e zelosa vigilancia na direcção
               e fiscalisação das obras, não excedeu a 80:000$000»

                     O espectáculo de abertura foi o drama em 5 actos, "A Mãe dos Pobres", original de Ernesto Biester. Foi
               nesta peça que o actor Taborda, nas suas memórias, lembra que «a primeira voz que se ouviu neste teatro foi
               a minha». Foi também exibida na inauguração, a comédia num único acto "O Xerez da Viscondessa", tradução
               de Francisco Palha.

                     O “Salão da Trindade”, anexo ao Theatro, foi o primeiro a inaugurar, abrindo as portas ao público no
               Carnaval de 1867 com uma série de bailes de máscaras. Destinado a bailes, concertos e conferências, tinha
               cerca de 200m² e uma galeria sobre colunas à volta do espaço, assim como um anfiteatro para a orquestra e,
               mais tarde, um proscénio. A seguir foto e cartaz do “Salão da Trindade”.




























                                                        Salão da Trindade

                     A primeira “Companhia do Theatro da Trindade” era composta pelos artistas Delfina do Espírito Santo,
               Rosa Damasceno, Emília Adelaide, Emília dos Anjos, Gertrudes Carneiro, Lucinda da Silva, Tasso, Izidoro,

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