Page 76 - Teatros de Lisboa
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Recreios Whittoyne
acções, nas ruas de Lisboa, a 25 sous cada uma. Ora, ahi está o que sào as cousas! Assim passa a gloria
n'este mundo! Sic transit gloria mundi!
Da derrocada financeira da empreza, restou, porem uma cousa: uma palmeira magnifica, objecto de todos o
mais notável do estabelecimento, o único que realmente não é de papel, papelão ou cartão pintado. Os outros
cartões subsistem ainda, verdade é; mas quão distantes das primeiras esperanças e como as suas frescuras
estão baças e amortecidas! O theatro que aberto a todos os ventos se assemelha a uma estufa em que as
vidraças estivessem quebradas, é explorado por acrobatas, velocipedistas, bezerros de três cabeças e outros
phenomenos e uma companhia de zarzuela hespanhola (opereta). Merece esta menção honrosa; representam
por vezes peças originaes que não carecem de brio e de bom sainete.
A clientela habitual dos Recreios não é absolutamente de primeira plano; aos domingos de verão uma
excellente banda de musica regimental attrahe algumas pessoas de todas as classes ao jardim convertido em
centro commercial de cocottes de toda a proveniência e natureza, convertendo-se assim em uma espécie de
Bolsa galante; as vendedoras d'agua trajam á moda de vivandeiras, no género do vestuário da Isabel do
Jockey-Club, e constituem uma das curiosidades d'aquelle recinto e das duas pseudo-divisões.
N'uma palavra, a invenção do clown inglez é pouco bafejada pela aura da fortuna; o jardim é um verdadeiro
calvário.»
O “Colyseu dos Recreios”, assim designado, teria uma vida curta já que em virtude da construção da
estação central ferroviária do Rossio, estes viriam a ser expropriados. O seu último espectaculo ocorreu em 9
de Julho de 1887, com a exibição da ópera “La Traviata”. Oito dias depois já estava demolido. Recordo que
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