Page 59 - O Que Faz o Brasil Brasil
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O trabalho sempre indica a idéia (ou ideal) da construção do
homem pelo homem. Um controle da vida e do mundo pela
sociedade. Todas as rotinas produtivas, sobretudo nas sociedades
protestantes e plenamente industrializadas, são marcadas pela
previsão e pela racionalidade. Há um mínimo de interferência de
fatores internos (as emoções de quem trabalha são inteiramente
controladas) e externos (o tempo e o espaço são igualmente
mapeados com grande precisão, de modo que o local de trabalho
fica longe da casa. É algo produzido para o próprio trabalho, como
uma fábrica ou usina...).
Até mesmo no caso da produção agrícola, ocorre essa
diagramação, de modo que a tentativa é sempre de criar uma
seqüência onde o controle é total. Não deve haver surpresas, não
deve haver acidentes, não deve haver coisa alguma de
extraordinário, exceto, obviamente, o aumento da produção.
Quando ocorre algo que não diga respeito a esse fator, então foi
porque um acidente ocorreu. E os acidentes aqui são medidos e
estudados dentro da ideologia de segurança e controle que preside
a todo triunfo da economia no nosso sistema. De fato, dentro dessa
perspectiva, pode-se até mesmo dizer que o grande acidente que
hoje atinge uma fábrica é a greve; ou seja, o extraordinário criado
por um dos fatores de produção, a força de trabalho...
Na sociedade industrial, a ausência de movimento é sintoma de
mal-estar social. O acidente — aquilo que não foi planejado ou
previsto — é também sinal de que algo está indo mal. Apesar de
todas as medidas contra o extra-ordinário, contra o acidente e
contra a coincidência negativa, porém sabemos que ela acontece. A
palavra catástrofe, que tanto usamos para definir tais situações,
significa precisamente “reviravolta”, de modo que é perfeita para
esses casos. Aqui, conforme estamos percebendo, estamos diante
de extraordinários não-planejados e não-previstos pela sociedade.
Escapando do seu controle consciente, esses eventos surgem como