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seja para o aniversariante ou formando seguir, seja para que seus

                  parentes e amigos possam ser consolados. O homem é um animal que
                  busca o sentido em tudo — esta é sua sina. E tais ocasiões são situações

                  privilegiadas em que os grupos se comprazem na busca de um sentido

                  profundo para suas vidas. Sentido que assegura, de certo modo, a

                  continuidade da vida coletiva, mesmo quando ameaçada pela
                  extinção, como é o caso dos rituais funerários.

                         As festas patrocinadas pelo Estado, como as comemorações da

                  Independência, também celebram uma ocorrência real, o nascimento

                  de uma nação, e por isso são eventos paradigmáticos que justificam a
                  importância da data. Aqui estamos diante de um rito de calendário

                  coletivo,  um aniversário (e uma  formatura) nacional. Evento  que

                  congrega simultaneamente, numa espécie de síntese, uma série de ritos

                  de passagem. É morte de uma relação (o elo colonial), é nascimento de

                  outra vida (o país que se torna  independente). È também carnaval
                  libertador, cerimonial instaurador e inaugurador. É solenidade profana

                  ligada ao poder e à vontade dos homens, e igualmente rito sagrado onde

                  se agradece a ajuda de Deus pelo desfecho favorável de um movimento
                  de ruptura que geralmente é marcado pela violência.

                         Tudo isso permite notar que os ritos da ordem têm um centro. Seja

                  um evento, seja um personagem, seja um objeto; neles existe, como centro,

                  uma cena básica que deve estruturar o rito como um todo, além de ações

                  e  cenários  periféricos.  Isso fica muito claro em aniversários, formaturas e
                  funerais, onde há um centro e um momento culminante, sem o qual não

                  se tem nem mesmo a necessidade de proceder ao drama. O caso da festa

                  de aniversário é um bom exemplo disso, pois a mesa e o bolo são aqui

                  personagens centrais, sendo parte de seu ponto culminante que tem a ver
                  com a forma ritualizada  como  se  ingere  um  produto  profundamente

                  identificado com o aniversariante, sendo seu representante simbólico.

                  Desse modo, o bolo do aniversariante e o número de velas que  o

                  enfeitam e que queimam correspondem ao número de anos que foram
                  “queimados” na própria vida de quem está sendo homenageado. Bolo e
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