Page 75 - O Que Faz o Brasil Brasil
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sagrado. É um espaço que deve  ficar aberto ao ritual e, em

                  conseqüência, fechado às atividades de rotina do mundo diário. No
                  caso do Rio de Janeiro, cidade  que vou tomar como exemplo, as

                  paradas militares quase sempre se realizam em frente ao Panteão do

                  Exército Nacional, local situado em frente ao Ministério da Guerra,

                  onde estão sepultados os restos mortais do Duque de Caxias, patrono
                  do Exército Brasileiro e das Forças Armadas em geral.  Não poderia

                  existir local mais sagrado que esse, em termos da nossa História. Além

                  disso, o desfile militar apresenta uma  dramatização da guerra — do

                  mesmo modo que a procissão dramatiza as hierarquias celestes. De
                  fato, no desfile, os soldados  se apresentam com suas armas,

                  comandados  por  seus  superiores, mas de modo rigorosamente

                  ordeiro. Dão uma demonstração de obediência, disciplina e ordem,

                  como a revelar a sua disposição de cumprir seu dever de defender

                  a  Pátria a qualquer custo, se isso for realmente necessário. Todos  os
                  Estados nacionais modernos têm essas formas de desfile,  embora

                  apresentem importantes  variações que denunciam  diversidades

                  políticas e sociais significativas. Por exemplo, o dia da pátria nos Estados
                  Unidos é uma festa pública, sem dúvida, mas que raramente é

                  comemorada com um desfile ou parada militar. Lá, sua forma mais

                  comum de celebração são os piqueniques realizados por famílias que,

                  juntas, vão para os parques e jardins das cidades acenar bandeiras,

                  disparar foguetes ou simplesmente comer e calmamente conversar.
                         No caso brasileiro, as paradas  militares são ponto importante

                  daquilo que denominei "triângulo ritual". De fato, na nossa sociedade

                  temos o desfile militar para as autoridades, ou melhor, como rito

                  destinado a celebrar a relação do Estado com o povo. Temos as
                  procissões que focalizam as relações dos homens com Deus através da

                  Igreja. E temos, finalmente, o desfile do carnaval, que faz o povo ser ao

                  mesmo tempo espectador e ator. Em todos os casos, a sociedade

                  celebra aquilo que certamente considera fundamental para a sua
                  estrutura social e — o que é interessante apontar no caso brasileiro —,
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